MARICATO, E. Na periferia do mundo globalizado: metrópoles brasileiras

Bibliografia:

 MARICATO, E. “NA periferia do mundo globalizado: metrópoles brasileiras”.In: Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana,  Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2001. (p. 15- 45)


Na periferia do mundo globalizado: metrópoles brasileiras



Ermínia Maricato é arquiteta e professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, além de coordenadora do curso de pós-graduação da FAUUSP.
A autora demonstra no texto que o Brasil apresenta nos últimos 60 anos um crescimento acelerado na taxa de urbanização, cerca de 80,2% reside nos centros urbanos, o que o levou a análise de como estaria se fazendo este assentamento residencial, um gigantesco movimento de construção de cidade levando em consideração algumas necessidades básicas como transporte, saúde, energia, água, trabalho etc... Ainda que o crescimento urbano não tenha sido satisfatório a todas as necessidades, o território foi ocupado improvisando todos os milhões de habitantes que constituem o centro urbano.
“A tragédia urbana é fruto de décadas vividas , em especial a partir da privatização da terra (1850) e da emergência do trabalhado livre (1888)”. (p.23)
É ressaltado a reforma urbana realizada no Brasil em quatro períodos históricos. Em 1930 foi significativo para o fortalecimento do mercado interno, desenvolvimento das forças produtivas, diversificação, assalariamento crescente e modernização da cidade. Em 1950, foi marcado por produzir bens duráveis e de produção o que fez com que essa nova dependência, o centro das atenções ficasse cada vez mais externo ao país, fazendo com que se distanciasse cada vez mais das necessidades internas, e a dependência aprofundasse mais em relação à fase anterior causando assim a divisão internacional do trabalho.
A autora revela o caráter predatório dessa industrialização, diante de um infraconsumo da maior parte da população, implantando o desperdício na substituição de produtos que é própria dos países desenvolvidos.
Em 1964, a criação do Banco Nacional de Habitação (BNH) integrado como Sistema Financeiro da Habitação (SFH), fez com que ocasionasse uma mudança das grandes cidades, com a verticalização promovidas pelos edifícios de apartamentos. Infelizmente não impulcionou a democratização do acesso a terra via instituição da função social da propriedade como estava previsto na proposta da reforma urbana, e sim jogou a população em áreas inadequadas ao desenvolvimento racional.. Essa década ficou conhecida como década perdida, onde a concentração da pobreza é urbana, concentradas em morros, alagados em planícies marcadas pela pobreza homogenia. Nos anos 80, acontece uma novidade no padrão da urbanização do Brasil, dentre essas, a diminuição da taxa de natalidade e de mortalidade e aumento da esperança de vida ao nascer, mesmo que esses dados apresente a melhora da vida da população brasileira, essa melhora não está ligada ao processo de urbanização, e sim as informações, campanhas de vacinação, serviços de água potável entre outros que são mais acessíveis em meio urbano.
O texto caracteriza todo o processo vivido desde os anos 40 no Brasil, infelizmente, a desigualdade social é um fato que nos acompanha anos e anos, de geração a geração, causando a separação de classes e privilégios, a minoria da sociedade brasileira desencadeando um círculo vicioso onde o desemprego, a marginalização e trabalhos informais são frutos da maior parte da população brasileira que vive em condições precárias de estrutura urbana e social. Apesar do Brasil ter apresentado um crescimento econômico acelerado durante o período analisado, o PIB brasileiro no século XX revela um crescimento da economia em contraponto, o salário mínimo decresceu quatro vezes o que nos relata que o indicador sócio econômico do poder aquisitivo da população não é compatível com a colocação do crescimento econômico que atribui ao Brasil a décima colocação entre os PIBs mundiais, não implicando portanto em um desenvolvimento humano igualitário, aprofundando mais ainda a exclusão social.

MORAES, A.C.R. O Positivismo como fundamento da Geografia Tradicional.

Bibliografia
           Moraes, A.C.R. O Positivismo como fundamento da Geografia Tradicional.
  In: Geografia Pequena História Crítica. São Paulo. Ed.Hucitec, 4º edição, 1983.


 O POSITIVISMO COMO FUNDAMENTO DA GEOGRAFIA TRADICIONAL


  • “Os postulados do positivismo (aqui entendido como conjunto das correntes não-dialéticas) vão ser o patamar pelo qual se ergue o pensamento geográfico tradicional, dando-lhe unidade”. p21
  • “Uma primeira manifestação dessa filiação positivista esta na redução da realidade ao mundo dos sentidos, isto é, em circunscrever todo o trabalho científico ao domínio da aparência dos fenômenos. Assim, para o positivismo, os estudos devem restringir-se aos aspectos visíveis do real, mensuráveis, palpáveis....A Geografia é uma ciência empírica, pautada na observação.... A descrição, a enumeração e classificação dos fatos referentes ao espaço são momentos de sua apreensão, mas a Geografia Tradicional se limitou a eles... E, desta forma, comprometeu estes próprios procedimentos, ora fazendo relações entre elementos de qualidade distinta, ora ignorando mediações e grandezas entre processos, ora formulando  juízos genéricos apressados. E sempre concluindo com a elaboração de tipos formais, a-históricos, e, enquanto tais, abstratos (sem correspondência com os fatos concretos)....Por esta razão, a Geografia Geral, tão almejada pelos geógrafos, na prática sempre se restringiu aos compêndios enumerativos e exaustivos, de triste memória para os estudantes do secundário”. p23
  • “Outra manifestação da filiação positivista também traduzida numa máxima geográfica, é a idéia de existência de um único método de interpretação, comum a todas as ciências, isto é, a não aceitação da diferença de qualidade entre o domínio das ciências humanas e ciências naturais.... A geografia é uma ciência de contato entre o domínio da natureza e o da humanidade... Daí a Geografia falar sempre em população (um conceito puramente numérico), e tão pouco em sociedade. Na verdade, a Geografia sempre procurou ser uma ciência natural dos fenômenos humanos, na colocação de J.Brunhes de que, para a Geografia, a casa (como elemento fixo de paisagem) tem maior importância do que o morador, afirmação de C.Vallaux, de que o homem importa, para a análise geográfica, por ser um agente de modelagem do relevo, por sua ação como força de erosão. Tal perspectiva naturalizante aparece com clareza no fato de buscar esta disciplina a compreensão do relacionamento entre o homem e a natureza, sem se preocupar com a relação entre os homens”. p24
  • “Assim, a unidade do pensamento geográfico tradicional adviria do fundamento comum tomado ao positivismo, manifesto numa postura geral, profundamente empirista e naturalista... A Geografia e uma ciência de síntese. ...Tomar-se-ia a Geografia como a culminância do conhecimento cientifico, isto é, como a disciplina que relacionaria e ordenaria os conhecimentos, produzidos por todas as demais ciências. ... Tudo aquilo que interfere na vida da superfície da Terra seria passível de integrar o estudo. ... Esta concepção atribui à Geografia um caráter anti-sistemático, que a distinguiria das demais ciências sendo por excelência um conhecimento sintético, que unificaria os estudos sistemáticos efetuados pelas demais ciências . Na verdade, a idéia de ciência de síntese serviu para encobrir a vaguidade e a indefinição do objeto. ...  Assim, esta máxima serviu para legitimar o estudo geográfico com base num fundamento do qual não se cumpria uma exigência central”.  p25
  • “...A continuidade do pensamento geográfico também se sustentou à custa de alguns princípios elaborados no processo de constituição dessa disciplina e tido como inquestionáveis... Princípios da unidade terrestre  _ a Terra é um todo, que só pode ser compreendido numa visão de conjunto; o princípio da individualidade _  cada lugar tem uma feição, que lhe é própria e que não se reproduz de modo igual em outro lugar; o princípio da atividade_ tudo na natureza está em constante dinamismo; o princípio da conexão_ todos os elementos da superfície terrestre e todos os lugares se inter-relacionam; o princípio da comparação  _ a diversidade dos lugares só pode ser apreendida pela contraposição das individualidades; o princípio da extensão_ todo fenômeno manifesta-se numa porção variável do planeta; o princípio da localização _ a manifestação de todo fenômeno é passível de ser delimitada... Deve-se ressaltar que a idéia de princípio é bastante cara ao pensamento positivista, o que reafirma o juízo de que a Geografia deve sua unidade a um fundamento comum com esta corrente filosófica... A generalidade dos princípios permitia que posicionamentos metodológicos antagônicos convivessem em aparente unidade”. p26
  • “As máximas e os princípios são os responsáveis pela unidade e continuidade da Geografia. Ambos veiculam formulações de um nível bastante elevado de generalidade e vaguidade, permitindo que se englobem em seu seio propostas díspares e mesmo antagônicas”. p26
  • “As máximas e os princípios são tomados como afirmações verdadeiras, que em momento nenhum são questionadas. Se questionado e contestado esse apoio, viria a ruir o edifício geográfico”. p27
  • “... Sem se haver penetrado no movimento de renovação da Geografia, o qual engendra uma série de novas definições, colocando perspectivas de fundamentação fora do positivismo clássico (a Fenomenologia, o estruturalismo, o neopositivismo, e o marxismo, entre outras), abre à discussão geográfica caminhos até então nunca trilhados, o que vai multiplicar as dificuldades existentes para definir a matéria tratada por esta disciplina”. p28
  • “Na verdade, as máximas, os princípios e, principalmente, o trabalho de pesquisa, engendrado em anos de atividades (quase dois séculos de Geografia), acabam por constituir um temário geral, ao qual se associa a designação da geografia.... É ele que, apesar de constituído no período da geografia tradicional, é mantido pelo movimento renovador, criando um elo entre os produtos deste dois pensamentos. Entretanto, como foi mencionado, este temário é implícito ... Assim, sua fluidez não lhe permite ser a definição do objeto em si”. p28
  • “Pelo temário geral da Geografia, esta disciplina discute os fatos referentes ao espaço e, mas, a um espaço concreto finito e delimitável _ a superfície terrestre . Só será geográfico no estudo que aborde a forma, ou a formação, ou a dinâmica (movimento ou funcionamento), ou a organização, ou a transformação do  espaço terrestre. ... Seria vã toda tentativa de buscar um consenso, que não fosse vago. A impossibilidade de existir um conteúdo consensual na Geografia está no fato de o temário geral se substantivar em propostas apoiadas em concepções de mundo, em metodologias e em posicionamentos sociais diversificados, e muitas vezes antagônicos”. p29
  • “... A luta de classes corresponde à luta ideológica, que tem, no domínio do conhecimento cientifico, seu palco privilegiado. ...As diferenciadas propostas veicularão sempre conteúdos e interesses de classe. Sendo a estrutura de classe contraditória, as propostas serão necessariamente antagônicas”. p30
  • “Frente as estas razões, a pergunta o que é Geografia? ... Geografia é apenas um rótulo referido a um temário geral. E que este só se substantiva através de propostas orientadas por métodos, que expressam posicionamentos sociais. Assim, o que é Geografia dependerá da postura política, do engajamento social de quem faz Geografia. Assim, existirão tantas Geografias, quantos forem os posicionamentos sociais existentes”. p30
  • “... Um geógrafo militante já disse que a Geografia e uma prática social referida ao espaço terrestre, a qual pode ser de dominação (como tem sido na maioria das vezes), mas também de libertação. ...Em outras palavras, investigar o estágio da luta ideológica, desenvolvida nesse campo de debate específico, que é a Geografia”. p31  


VEIGA. J.A. Cidades Imaginárias

Bibliografia
VEIGA, José Ali. Cidades Imaginárias. O Brasil é menos urbano do que se calcula (p.55-70). Campinas.Sp. Autores associados 2002.

 

Cidades Imaginárias


José Eli da Veiga tem 54 anos, é professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP.
O autor faz umas analogia do que é considerado atualmente pelo Estatuto da Cidade com a verdadeira realidade brasileira do que representa espaço urbano. Este Estatuto foi baseado pelo Decreto-Lei 311, de 1938, obra do Estado Novo, que considera cidade todas as sedes municipais existentes, independentes de suas características estruturais e funcionais, o que coloca em questão de que qualquer aglomerado com menos de 20 mil pessoas pode ser considerado cidade, contradizendo com o parâmetro da OCDE- Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico- para que uma cidade seja considerada urbana, a densidade populacional precisa ser superior a 150 hab/Km2.
É ressaltado que ao avaliar por este ponto de vista, é levado a conclusão de que apenas 411 dos 5507 municípios brasileiros existentes em 2000 seriam considerados urbanos, representando assim 60% da população brasileira urbana e não 80% como impõe o Estatuto estadonovista que dita a metodologia oficial. A desproporcional divisão de território dita uma realidade brasileira, que relata de uma maneira estapafúrdia o espaço urbano, fazendo com que aqueles agricultores, pecuaristas, extrativista, indígenas, nordestinos percam direitos aos benefícios dirigidos a populações rurais como por exemplo à cestas básicas por simplesmente residirem em sedes de minúsculos municípios, levando-os ao patamar de status de cidadão urbano, confundindo posições e funções no território com as de um bancário, corretor, guarda de trânsito e outros.
O texto Cidades Imaginárias é de fácil compreensão, o autor consegue demonstrar com clareza a anômala divisão territorial que esta em vigor desde a criação do decreto Lei 311 do estado novo que posteriormente representado pelo Estatuto da Cidade que rege até os dias atuais embora a situação brasileira seja completamente inversa do que é demonstrado, as perspectiva de mudanças estão sendo estudadas e avaliadas com o propósito de extinguir esta visão obsoleta do que representa o “grau de urbanização” no Brasil. 

CARLOS, Ana Fani. Espaço e Indústria.

Bibliografia:
CARLOS, Ana Fani. Espaço e Indústria. 5º edição. São Paulo: Contexto, 1992.




“O homem aparece na geografia tradicional como um elemento a mais na paisagem, fazendo parte do domínio biológico planetário e não como ser social, membro de uma sociedade que se encontra dividida em classes sociais. Nesta perspectiva, os homens são tratados como indivíduos de uma comunidade e se distribuem pelo planeta; e a geografia se propõe a mostrar as modalidades de ocupação dos diversos grupos humanos. Aqui o objeto da geografia é o estudo das coletividades.”(p.11)
“A idéia da distribuição dos homens sobre a terra produz a idéia do homem no espaço enquanto localização da atividade humana, portando exterior ao homem. O espaço é humano neste contexto por que o homem o habita; o homem é o agente que modela o relevo e não um ser social que produz o espaço a imagem e semelhança da sociedade da qual participa. Neste sentido o hoem em sociedade se relaciona com a natureza através de instrumentos criados pelo seu estágio cultural produzindo um modo de vida e um espaço.”(p.11)
“A fase descritiva, em sua expressão última, foi incapaz de analisar o homem enquanto ser social, membro de um sociedade que tem, na contradição das classes, sua características básica. Esta mesma descrição impediu a geografia de elaborar um arcabouço teórico mais aprofundado, na medida em que os trabalho tinham por fim a descrição; lugar pelo lugar, enquanto único.”(p.12) estudo ideográfico.
Isto significa que encontrávamos estudos sobre países e regiões do globo, muito minuciosas, mas que não tinham relações com outros países ou outras regiões. Tal fato impedia a elaboração de teorias que pudessem explicar de modo global os fenômenos que observávamos tanto em Paris como em São Paulo, por exemplo.”(p.12)
Os fenômenos aparecem de forma isolada, sem quaisquer relações, a ponto do subdesenvolvimento aparecer com estágio do desenvolvimento e os fenômenos naturais isolados dos humanos.O próprio espaço é exterior ao homem.”(p.13)
A dimensão da exterioridade que o espaço geográfico tem em relação a sociedade é, a nosso ver, a principal característica da chamada geografia tradicional.”(p.13)
“À esta noção de espaço enquanto palco da atividade do homem, organizado em função das necessidades dos grupos humanos, entendendo a terra como morada, contrapõe-se a idéia do espaço produzido pela sociedade onde o trabalho, enquanto atividade produtiva, tem o caráter de mediados da relação. È através do trabalho que o homem se relaciona com a natureza.”(p.13)
“Em primeiro lugar, o espaço geográfico, não é a base da história mundial, mas é o produto das relações que ocorrem, num determinado momento histórico, entre a sociedade e o meio circundante.”(p.14)

A GEOGRAFIA E O ESPAÇO

“O homem transforma a natureza, humanizando-a, apropriando se dela e incorporando-a ao seu universo”(p.16)
“O trabalho como categoria central da análise do processo espacial nos remete às seguintes questões:
- o espaço geográfico visto como produto da história das relações que o homem mantém com a natureza, através do trabalho (no mesmo processo de criação do humano e de modificação da natureza), é fruto de uma produção geral da sociedade como um todo;
- o trabalho como atividade do ser humano visa satisfazer necessidades, e na medida que estas são históricas e que a atividade que se satisfaz cria novas, a criação de um espaço diferenciado dá-se em função das condições materiais de produção e do estágio de desenvolvimento das forças produtivas;
- o trabalho sendo sempre um  processo de apropriação pelo ser humano permite discutir as formas como esta apropriação se realiza, colocando em discussão hoje o espaço como um produto social apropriado individualmente e, portanto alienado.”(p.17)
“Neste caso específico cabe considerar que o homem, no mundo de hoje, só pode ter acesso a um emprego através da venda de sua força de trabalho. Ele não é necessariamente , o dono do instrumento e ferramentas do trabalho. O produto do seu trabalho não lhe pertence, pertence ao dono do capital [...] Dentro desse raciocínio se desenvolve a idéia do processo de trabalho como um processo de alienação, pois não é determinado pelo sujeito e nem este sujeito se torna dono do seu produto.”(p.17)

A REPRODUÇÃO DO ESPAÇO

“A reprodução do espaço aparece como resultado do processo de produção e reprodução do capital, que se realiza como capital adicional e que tem como condição de existência, a apropriação do trabalho alheio”.(p.18)
“ A sociedade como um todo se articula, através do processo de produção geral, na criação do espaço, mas como o modo de produção  está assentado em relações de poder conferidas pela propriedade privada, torna extremamente diferenciada a apropriação do produto do trabalho.”(p.19)

O ESPAÇO E A INDÚSTRIA

“A indústria é a atividade capaz de produzir e desenvolver a integração de vastas áreas.”(p.20)
As teorias sobre a localização industrial expressam a capacidade de articulação espacial da indústria, mas é necessário salientar que o desenvolvimento das forças produtivas tem colocado em xeque certos dados sobre a localização da indústria que tende a se tornar-se ubígua.”(p.20)

A INDÚSTRIA E O URBANO

“O processo de industrialização, ao provocar uma profunda alteração na divisão social e espacial do trabalho, implica mudanças radicais na vida do homem. A aglomeração da população, dos meios de produção e de capitais num determinado ponto do espaço, multiplica os pontos de concentração e produz uma rede urbana articulada e hierarquizada.”(p.35)

O CICLO DO CAPITAL

“Essa parcela da população que vende sua força de trabalho com o objetivo de reprodução de sua existência, emprega seu salário de modo a sustentar esta existência. São gastos com habitação, alimentação, energia, saúde, transportes, educação, saneamento, vestuário, lazer, etc. Estas necessidades exigem uma certa aglomeração imposta pela socialização do processo de produção e criam um espaço peculiar, diferenciado do agrário.”(p.37)

O CAPITAL E A CIDADE

“As contradições espaciais emergem amplamente. Os contrastes e as desigualdades de renda afloram em toda sua plenitude. O acesso a um pedaço de terra, o tamanho, o tipo de material de construção vão espelhar mais nitidamente as diferenciações de classe. O acesso a habitação e aos meios de consumo coletivo, serão diferenciados segundo a classe social.”(p.41)
“O espaço geográfico produz-se em função da reprodução da vida humana, por outro lado, permite o desenvolvimento da produção capitalista. A cidade aparece como a justaposição de unidades produtivas, através da articulação entre os capitais individuais e a circulação geral. Ela permite a integração dos diversos processos produtivos, implicando uma configuração espacial própria a garantir a fluidez do ciclo do capital.”(p.41)
“O modo de produção capitalista cria um espaço como todo modo de produção. P pressuposto é que no capitalismo, a produção só ocorrerá se permitir a valorização do capital. Na produção do espaço há algo mais, um lado estratégico e político de grande importância, pois não é uma produção qualquer: acrescenta algo decisivo a esta, posto que é também reprodução das relações de produção. Isto significa que a medida que o capitalismo se desenvolve e a cidade cresce não serão criados apenas produtos, mas também comportamentos humanos.”(p.42)
“Do ponto de vista da cidade, o uso do solo voltado ao processo produtivo, através dos estabelecimentos industriais, poderá ser discutido partindo-se da sua localização.”(p.43)
“A localização dos estabelecimentos industriais variará de acordo com o tipo de produto que fabrica e do tipo de indústria. Enquanto o estabelecimento (nacional) de pequeno e médio porte vincula-se, fundamentalmente, à minimização dos custos de produção e maximização dos lucros, os estabelecimentos vinculados às coorporações multinacionais, certamente se localizarão em função de outros objetivos. Para estes o que está em jogo é a segurança da corporação, do conjunto como um todo. Hoje a grande indústria multinacional diversifica seus produtos e espalha pelo espaço mundial seus estabelecimentos industriais. Este feito responde a uma estratégia de conjunto para manter seus lucros”.(p.43) Weber
“Assim o espaço produzido primordialmente em função dos objetivos e necessidades do capital, aparece como algo externo ao homem, apesar de ser produzido por ele, na medida que o processo de trabalho é alienado.”(p.44)

INDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃO

“A base universal do desenvolvimento da indústria é representada pela troca geral, no mercado mundial e, em conseqüência, pelo conjunto articulado das atividades de produção, distribuição, circulação e troca.”(p.44)
“A industrialização é um fenômeno concentrado no espaço enquanto produto da aglomeração de meios de produção, mão de obra, capitais e mercadorias.”(p.44)
“Em síntese podemos dizer que a existência da cidade decorre:
-da divisão do trabalho;
-da organização da sociedade em classes sociais;
-da acumulação tecnológica
-da produção do excedente agrícola decorre da evolução tecnológica
-de uma certa concentração espacial das atividades não agrícolas. “(p.45)
“O modo de produção capitalista reproduz o fenômeno urbano com características peculiares, aspectos e significados diferenciados.”(p.45)
“O capitalismo tende a potencializar a aglomeração, aprofundando a articulação entre os lugares complementares através da comunicação e dos transportes e com isso propicia o fim da atomização do espaço.”(p.46)
“A urbanização capitalista produz uma transformação radical na vida do indivíduo.O individualismo tente a crescer nas cidades; os laços entre os habitantes se enfraquece. Todos estão vinculados e ligados à massa humana, amorfa e desintegrada.”(p.46)
“Criam-se grandes aglomerações acentuadas pelo estágio do capitalismo monopolista.”(p.47) – internacionalização do capital e mundialização das trocas
“Aglomeração espacial da atividade industrial deve-se à necessidade de utilização da mesma infraestrutura de serviços especializados (energia, água, esgoto, transporte, comunicação, etc.”(p.47/48)

A UNIVERSALIZAÇÃO DO PROCESSO

“O processo de industrialização intensificou a urbanização a ponto de ambos se tornarem indissociáveis. Produziu-se um novo urbano a partir da criação de novos padrões de produção e consumo. Criaram-se novas formas de convívio entre as pessoas a partir da construção de um novo modo de vida.Gerou-se profundas alterações de valores e crenças que afetaram os costumes e as relações tradicionais. Era emergência de um novo homem com novas aspirações, motivações e valores.”(p.49)
“A grande cidade, a metrópole, produto da socialização e da divisão do trabalho, produziu a desintegração do coletivo e a atomização das relações sociais, circunscritas a menos célula familiar. O comportamento dos indivíduos e seus movimentos, aspirações e necessidades passaram a ser determinados pelo exterior.”(p.49)

A METRÓPOLE

“No estágio do capitalismo concorrencial, como a lógica do capital está fundamentada exclusivamente na maximização do lucro a curto prazo, a ainda pequena dimensão das fábricas e sua multiplicidade possibilitam baixo grau de concentração.”(p.50)
“Na fase monopolista- centrada nas grandes firmas [...] a articulação e especialização entre parcelas espaciais intensificam-se e ganham nova trama de relações na medida em que surgem os conglomerados e as empresas multinacionais junto com as profundas transformações dos meios de comunicação e transporte.”(p.50)
“Este fenômeno é conseqüência da mundialização da economia através da transnacionalização do mercado de capitais e pela reestruturação do capital em escala global, proveniente da acumulação acelerada.”(p.51)

O ESPAÇO TRANSNACIONAL

UNIVERSALIDADE E PRODUTIVIDADE

“A noção de subdesenvolvimento- desenvolvimento é produto do fato de que o modo de produção capitalista desenvolve-se de forma desigual que se expressa, concretamente, em diferenças na composição orgânica do capital e em graus de produtividade diferenciados.”(p.53)
“Estes diferenciais de produtividade e preço, decorrentes dos desníveis de desenvolvimento das forças produtivas, aparecem através das trocas internacionais do comércio exterior, como conseqüência do desenvolvimento desigual, gerado pelo processo de acumulação capitalista. Em cada fase do desenvolvimento do capitalismo, a composição do capital se apresenta de forma correlacionada ao desenvolvimento das forças produtivas. Convém lembrar que o que vale para as diversas fases sucessivas do desenvolvimento num mesmo país vale para diversas fases coexistentes de desenvolvimentos entre diferentes países.”(p.54)

À GUISA DE CONCLUSÃO

E O HOMEM?

“O capital destrói a atomização das relações de produção das pequenas aglomerações humanas. A universalização do capital produziu a “massa humana” e isolou o homem. A grande metrópole produziu e aprofundos o individualismo exacerbado.”(p.62)
“Tal subversão é conseguida pela imposição dos valores burgueses de erro e produtividade, criando a ilusão da coletividade. Dentro dessa “coletividade produzida”, o indivíduo não se identifica com o outro e não são levados em conta do desenvolvimento de sua potencialidade, suas inquietações e utopias. São os objetivos da empresa que se impões e estes determinarão a relação dos indivíduos que compões o grupo.”(p.62) Durkhein

E A CIDADE FICA DIFERENTE DA INDUSTRIA?

“A cidade reproduz a vida dentro da indústria dia após dia.”(p.64)
“O corre-corre da cidade não é diferente do ritmo da maquinaria. A alienação do processo de trabalho entre via televisão, na casa do trabalhador. A casa própria é um dos elementos impostos pela necessidade de manter o operário “preso e obediente” ao processo de trabalho.O acesso ao lazer é permeado pela relação monetária.”(p.64)



Geografia das Indústrias


Avaliação de Geografia da Indústria

1- Explique: “(...) o livre mercado, por si só, jamais poderia engendrar uma distribuição mais eqüitativa da atividade industrial no território.”

Assim como o livre mercado tende a concentrar o capital na mão de poucos empreendedores capitalistas, ele também tende a concentrar o capital num determinado ponto do espaço, onde obterá vantagens comparativas em função das chamadas economias de aglomeração; porém, a partir do momento em que a problemática urbana ultrapassa a problemática industrial, o fator aglomeração deixa de ser uma vantagem e passa a ser um entrave, um empecilho para o desenvolvimento da atividade industrial. Assim, deseconomias de aglomeração, tais como a violência urbana, a deterioração das condições de habitabilidade etc., apresentam-se como fatores inibidores da atratividade dos grandes centros urbanos. Isto não significa que uma melhor distribuição da atividade industrial sobre um determinado espaço se produzirá automaticamente após um momento de concentração. Somente através de políticas econômicas e do planejamento urbano-regional torna-se possível uma distribuição mais eqüitativa dessa atividade no território. Os exemplos clássicos dos Estados Unidos, da Itália e do Brasil provam também que tal lógica independe do fato de o país ser desenvolvido ou subdesenvolvido. Enfim, o mercado jamais poderia – ao contrário do que pensou Adam Smith – distribuir com sua “mão invisível” a riqueza engendrada no centro do sistema, tanto social quanto espacialmente.

Fonte: SOUZA, Marcelo Lopes de. Da “fragmentação do tecido sociopolítico-espacial” da metrópole à “desmetropolização relativa”: algumas facetas da urbanização brasileira nas décadas de 80 e 90. In.: SPÓSITO, M.E.B. (org.) Urbanização e Cidades: perspectivas geográficas. Presidente Prudente: [s.n.], 2001.
LEFEBVRE, Henri. A revolução urbana. Trad. Sérgio Martins. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.

2- Explique: “a concentração das atividades econômicas em determinadas áreas é um componente intrínseco do processo de desenvolvimento e que os mecanismos de mercado não promovem automaticamente a redução das desigualdades regionais de renda e a localização ótima dos recursos.”

Parte da explicação da presente afirmativa já fora realizada na explicação da afirmativa anterior. Cabe-nos aqui ressaltar a especificidade de tal concentração nos países subdesenvolvidos. Milton Santos conseguiu captar a essência da distribuição espacial das atividades econômicas nas cidades desses países. Em “L’espace partagé”, ele publicou pela primeira vez sua teoria sobre os dois circuitos da economia urbana. Vejamos algumas passagens que nos ajudam a descortinar a organização destes espaços:

Os espaços dos países subdesenvolvidos caracterizam-se primeiramente pelo fato de se organizarem e reorganizarem-se em função de interesses distantes e mais freqüentemente em escala mundial.(...)A cada modernização, novos pontos ou novas zonas são conquistadas ao espaço neutro e tornam-se uma nova porção do espaço operacional.“(p.20)
...o espaço dos países subdesenvolvidos é marcado pelas enormes diferenças de renda na sociedade, que se exprimem no nível regional, por uma tendência à hierarquização das atividades e, na escala do lugar, pela coexistência de atividades de mesma natureza, mas de níveis diferentes. Essas disparidades de renda são menos importantes nos países desenvolvidos e influenciam muito pouco o acesso a um grande número de bens e serviços. Ao contrário, nos países subdesenvolvidos, a possibilidade de consumo dos indivíduos varia muito. O nível de renda também é função da localização do indivíduo, o qual determina, por sua vez, a situação de cada um como produtor e consumidor.“ (p.21)
A existência de uma massa de pessoas com salários muito baixos ou vivendo de atividades ocasionais, ao lado de uma minoria com rendas muito elevadas, cria na sociedade urbana uma divisão entre aqueles que podem ter acesso de maneira permanente aos bens e serviços oferecidos e aqueles que, tendo as mesmas necessidades, não tem condições de satisfazê-las. Isso cria ao mesmo tempo diferenças quantitativas e qualitativas no consumo. Essas diferenças são a causa e o efeito da existência, ou seja, da criação ou da manutenção, nessas cidades, de dois circuitos de produção, distribuição e consumo dos bens e serviços. (...)
Um dos circuitos é o resultado direto da modernização tecnológica. Consiste nas atividades criadas em função dos progressos tecnológicos e das pessoas que se beneficiam deles. O outro é igualmente resultado da mesma modernização, mas um resultado indireto, que se dirige aos indivíduos que só se beneficiam parcialmente ou não se beneficiam dos progressos técnicos recentes e das atividades a eles ligadas.“ (p. 37-38)

Assim, Milton Santos denominou estes dois circuitos de moderno ou superior, e de inferior. Sua conclusão resume-se numa crítica ao modelo hexagonal de Walter Christaller, adaptando-o a partir a ótica dos dois circuitos.

As Regiões de Expansão no Sistema dos Lugares Centrais

Fonte: SANTOS, Milton. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. 2.ed. São Paulo: EDUSP, 2003.
CHRISTALLER, Walter. Die zentralen Orte in Süddeutschland: eine ökonomisch-geographische Untersuchung über die Gesetzmäßigkeit der Verbreitung und Entwicklung der Siedlungen mit städtischen Funktionen. Erlangen: wissenschaftliche Buchwissenschaft Darmstadt, 1968.

3- Defina:
-Greenfields

Os chamados greenfields ou “campos verdes” referem-se às áreas agrícolas distantes dos centros urbanos, não desenvolvidas, em boas condições, ou ainda áreas florestais, parques e estuários naturais.
VASQUES, Amanda Ramalho. Considerações sobre estudos de caso de Brownfields: exemplos no Brasil e no Mundo. REVISTA BIBLIOGRÁFICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES.
-Terceira Itália
A expressão “Terceira Itália” foi cunhada no final dos anos 80 para designar um novo modelo de desenvolvimento em algumas regiões da Itália, e que consiste na combinação de crescimento econômico, redução da pobreza e diminuição da desigualdade, centrado nas empresas de pequeno e médio porte, com um sistema cooperativo sem eliminar a competição entre as mesmas e com orientação para o mercado externo. Tal modelo emergiu como alternativa à dualidade clássica existente no processo de desenvolvimento socioeconômico italiano, isto é, ao noroeste altamente industrializado e desenvolvido, destacando-se aí as cidades de Milão e Turim, e o sul, agrário e subdesenvolvido. Para o economista Paolo Gurisatti, não existiria apenas uma “Terceira Itália”, senão várias. O exemplo clássico é o da região do Vêneto, porém chama a atenção para as regiões de Emiglia-Romana e Lombaria, embora destaque algumas diferenças entre estas.
Antonio Gramsci em “A questão meridional” ressalta os principais entraves do desenvolvimento da Itália meridional, destacando aí a importância da associação do proletariado – enquanto classe-vanguarda da transformação social – com o camponês na luta para o desenvolvimento nacional.

Fontes:Instituto Fernando Henrique Cardoso (www.ifhc.org.br)
GRAMSCI, Antonio. A questão meridional. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

4- No texto vários autores citados prognosticaram a interrupção de processos de desconcentração da atividade industrial. Que autores são esses e quais seus principais pressupostos teóricos?

Paulo Roberto Haddad - o autor defende que a atratividade das regiões depende da presença de centros de ensino e pesquisa, do mercado de trabalho profissional, da existência de relações industriais articuladas geograficamente, da facilidade de acesso e o “clima de negócios”, entre outros fatores de produção sofisticados. Por este motivo, o padrão espacial pouco se alteraria em vistas das já consolidadas regiões de aglomeração urbanas, que somente se estenderiam ainda mais, devido ao crescimento das atividades tecnológicas. A respeito dos setores dependentes de recursos naturais altamente localizados, estes não tenderiam a descentralização devido ao baixo potencial de diversificação produtiva que essa atividade oferece para as regiões receptoras.
Wilson Cano - defende que a modernização acelerada com novos setores tecnológicos sofisticados, a integração competitiva e o Mercosul, dariam prioridade ao crescimento das regiões mais desenvolvidas do país, ou seja, com elevado nível de auto-suficiência com a o Sul e Sudeste, acarretando uma reversão do processo de desconcentração ocorrido entre 1970 e 1985.
Leonardo Guimarães Neto – para o autor, o esgotamento da tendência de desconcentração foi provocado pela crise do Estado e pela desarticulação dos seus principais instrumentos de política econômica estatal como investimentos públicos, financiamentos da atividade produtiva e, incentivos fiscais.
Clélio Campolina Diniz – o autor desenvolveu a teoria do desenvolvimento poligonal (polígono definido pelos eixos “Belo Horizonte- Uberlândia-Londrina/Maringá-Porto Alegre-Florianópolis-São José dos Campos- Belo Horizonte”), onde a concentração se daria na região de intenso desenvolvimento e dinamismo urbano, com concentração de industrias de alta tecnologia, somadas com diversos fatores favoráveis a essa região, tais como o modelo de acumulação flexível, diminuição da intervenção estatal e a abertura comercial do país (Mercosul). Para o autor, a desconcentração industrial ocorrida entre 1970 e 1985 teria sido na verdade uma desconcentração concentrada, uma vez que grandes indústrias apenas se deslocaram para regiões ainda que próximas aos grandes centros urbanos industrializados, ampliando seu raio de influência, contendo neste polígono industrial o limite da desconcentração industrial brasileira que teve como fator determinante a redução dos custos de transportes, a presença dos principais eixos viários que interligam a metrópole paulista aos municípios de alto potencial econômico da região.
Carlos Américo Pacheco – o autor faz uma crítica às análises da desconcentração baseadas na lógica dos “novos requisitos locacionais”, portanto sua ótica é baseada nas mudanças dos paradigmas da Terceira Revolução Industrial que constitui o aspecto da globalização da economia, levando empresas multinacionais a traçarem estratégias de competição que envolve o planejamento de implantação das indústrias em áreas selecionadas de maneira segura em vista da competitividade do mercado mundial. Para o autor, este contexto atual globalizado, problematiza a continuidade do processo de desconcentração industrial brasileira, mas não a extingui de fato, e sim, torna-a mais lenta e pontual, já que o movimento de desconcentração são induzidos sobretudo pelo dinamismo de algumas áreas exportadoras com as pertencentes ao Mercosul.

5- Quais os argumentos apresentados por Luis Lopes Diniz Filho que corroboram para afirmar a continuidade da desconcentração?

Para Luis Lopes Diniz Filho, a desconcentração da indústria brasileira teve continuidade nas últimas décadas, favorecida pela abertura comercial dos anos de 1990 tendendo a prosseguir pelos próximos anos. Luiz Lopes enfatiza que os erros dos especialistas ao prever o esgotamento do processo de desconcentração se deve, principalmente, a importância conferida a um pequeno número de fatores que intervêm na dinâmica espacial industrial, sobretudo a crise do planejamento regional e as tendências de aglomeração associadas ao novo paradigma técnico e econômico construído. Para o autor, a distribuição espacial dos fatores de produção influencia as decisões locacionais das empresas de forma diferenciada, ou seja, a configuração territorial condiciona a concentração e desconcentração da economia. Por exemplo, as regiões que dispõem de fatores de produção mais sofisticados atraem as indústrias mais intensivas em capital e tecnologia, geralmente estas vem a se localizar em áreas mais urbanizadas e desenvolvidas, onde é possível encontrar mão de obra mais qualificada, infra-estrutura de pesquisa científica e tecnológicas maiores oportunidades de encadeamento com clientes e fornecedores, enquanto as regiões que apresentam fatores de produção banalizados recebem as indústrias mais intensivas em mão de obra e recursos naturais, mediante consideráveis formas de incentivos fiscais e outras formas de subsídio à produção. Noutras palavras Diniz explica que as indústrias de bens de capital e de bens de consumo durável, tendem a se dirigir para as cidades de porte médio localizadas no Sul e SE e para algumas metrópoles fora do eixo Rio - São Paulo, tais como Curitiba, Porto Alegre e Salvador. Já as industrias de bens de consumo não duráveis tendem a se desconcentrar conforme a dinâmica demográfica de cada região e a oferta de mão de obra barata, beneficiando assim os estados do Centro-Oeste e áreas como a Grande Fortaleza e a cidade de Sobral, no Ceará.
Quanto as industrias dependentes de matérias primas, como por exemplo da Industria Extrativa Mineral de Celulose na Bahia e a Indústria Petroquímica no Rio de Janeiro, estas tendem a se localizar nas proximidades da obtenção da matéria prima, não acarretando grande desconcentração deste setor da atividade industrial.

6- Por que o distrito industrial ganha destaque na combinação do sistema just in time com a “desintegração vertical”. Indicar bibliografia consultada.

A combinação do sistema just in time (novas técnicas de organização da produção) com a desintegração vertical (consiste na especialização das grandes empresas nas atividades essenciais para a competitividade, com recursos para a sub-contratação em larga escala como forma de criar uma rede de fornecedores especializados, geralmente compostas por empresas de pequenos e médios portes), favorece a migração de empresas para os “novos espaços industriais”. Com a criação de pólos industriais dinâmicos em regiões do tipo greenfield, localizados em áreas com boa qualidade de vida urbana, infra-estrutura de pesquisa científica e tecnológica (parcerias com universidades e empresas), menores níveis de salários e ausência de organização sindical, é favorecido a criação de uma economia de aglomeração, consolidando assim a concentração industrial na região, no então conhecido Distrito Industrial. Os Distritos Industriais são áreas receptoras das atividades de alta tecnologia e apresentam condições favoráveis ao paradigma da produção flexível, favorecendo a migração de empresas para estes novos espaços industriais que por sua vez, com a mobilidade espacial, a indústria tenderia a desaparecer com o tempo, já que a formação das redes verticais reforçaria a consolidação e concentração industrial nessas regiões.












GLOBALIZAÇÃO: O PAPEL DO ESTADO-NAÇÃO NA ECONOMIA MUNDIAL DO SÉCULO XXI

GLOBALIZAÇÃO: O PAPEL DO ESTADO-NAÇÃO NA ECONOMIA MUNDIAL DO SÉCULO XXI

CAETANO. Laisa Cabral

Universidade Federal de Juiz de Fora, graduanda de Geografia



O sistema capitalista que se disseminou pelo mundo, trouxe a idéia da individualização do lucro e do pensamento neoliberal, exigindo a abertura das fronteiras de todos os países do globo, conduzindo com isso várias formas de dominação das potências desenvolvidas sobre países periféricos. Este processo que vem ocorrendo mundialmente é denominado de Globalização, um fenômeno, que invade as fronteiras, modifica costumes, expande as novas técnicas científicas e tecnológicas, constrói e destrói mercados com a sua nova dinâmica, dificulta o controle estatal sobre ele.
“O espaço se globaliza, mas não é mundial como um todo, senão como metáfora. Todos os lugares são mundiais, mas não há espaço mundial. Quem se globaliza, mesmo, são as pessoas e os lugares”. (SANTOS[1]: p.31)

Concordamos então que para cada lugar, quanto mais ativa seja a globalização e quanto mais dinâmicas sejam as comunicações e as relações econômicas e financeiras, maior papel terá que representar o Estado, porque a debilidade deste acarretaria muito dano ao desenvolvimento que se anuncia com as perspectivas do mundo globalizado.
Logo, entendemos que, o Estado tem que representar os interesses coletivos dos povos e atuar como um sujeito ativo da integração internacional.
“A globalização está abrindo novas fronteiras concretas e incontestáveis que estabelecem limites efetivos ao Estado –nação”. (CASTRO[2]: p.12)

Podemos também verificar que a abertura dos mercados e a dominação econômica pelos países desenvolvidos, é diretamente proporcional ao crescimento da pobreza dos países periféricos, com imensos efeitos negativos para sua população e conseqüências sociais enormes, como a deficiência da educação, da saúde, e o aumento da criminalidade.
Como conseqüência do crescimento das desigualdades sociais da população, o Estado-nação vem enfraquecendo, perdendo funções, se tornando cada vez mais vulnerável à obter ajuda internacional e às organizações não governamentais e instituições financeiras, que vem sempre acompanhada  a diversas imposições econômicas e políticas causando o aniquilamento do Estado-nação.
Ora, se para existir um mercado global é preciso que, concomitantemente, atuem e sejam muito vigorosos o papel dos Estados nacionais, logo, o que se deve pretender não é o aniquilamento do Estado e sim a correção de suas imperfeições e uma maior precisão na seleção de seus objetivos. Logo, vê-se que o Estado – nação já não é mais o responsável pelo seu próprio destino. O poder político do Estado está colocado frente a frente com o mercado e encontra-se dele dependente. A economia encontra-se globalizada tornando impossível o isolamento do Estado.
Mas como adequar o Estado ao Meio Técnico Científico Informacional[3], sem que este perca sua identidade, suas funções?
Castro (2000) diz que “o Estado reconstitui o seu poder através das construções de alianças, novos arranjos em parceria para superar conflitos e alcançar complementaridade” o autor ainda enfatiza que “a parceria público - privada é fundamental, assim como a parceria com a sociedade civil”.

Simultaneamente ao enfraquecimento da identidade do Estado, há movimentos políticos que procuram barrar essa onda globalizadora, pregando um sentimento nacionalista e lutando contra ela. No Brasil, podemos citar as Organizações não Governamentais (ONG´s) e os movimentos sociais como o mais conhecido, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Essas questões são envolventes e interessam a todas as pessoas, pois, queiram ou não, estão sendo atingidas pelos efeitos da globalização, seja no sentido positivo, seja no sentido negativo.
Assim, as organizações não só estão produzindo, mas também tomando decisões. Essas organizações, econômicas, políticas, culturais ou sociais exercem diversas funções com exclusiva tomada de decisões, liberando valores ou retendo-os, na medida do "comportamento" dos países beneficiados. Interessante frisar, no entanto, que esse procedimento nada mais é do que mais uma forma de dominação, pois tais organizações, comandadas (“financiadas”), geralmente, por países desenvolvidos, passam a ditar normas que, na maioria das vezes, não só influenciarão na economia, mas também e, principalmente, na política dos Estados beneficiados. Isto é a Globalização!
Ao mesmo tempo em que se percebe o avanço da globalização, verifica-se que os Estados periféricos perdem poder, e os economicamente mais avantajados asseguram para si esses espaços.
Santos (1997) relata muito bem que “as necessidades do comércio entre coletividades introduziam nexos novos e também desejos e necessidades e a organização da sociedade e do espaço tinha de se fazer segundo parâmetros estranhos às necessidades íntimas de cada grupo”. È desta maneira que perdemos territórios, não se trata deste fisicamente somente, mas principalmente cultural. Há uma mudança constante no gênero de vida[4] da sociedade moderna. Fazendo surgir assim todo um processo de regionalização, porém, no aspecto sócio-cultural, que se caracteriza pela defesa dos recursos ambientais e culturais e, também, pela busca de sobreviver ao processo de globalização, que, relativamente aos países dominados economicamente, os aniquila, ou os deixa à mercê dos industrializados.
No contexto econômico dos países periféricos da América do Sul, foi criado o Mercosul com a finalidade de integração econômica entre os países sul-americanos inspirado em experiência de nações que se uniram em blocos com o objetivo de criar um mercado comum para seus produtos. Acredita-se que juntos os países do Mercosul terão maior força de negociação com outros blocos e também maior facilidade de aliar-se a países de outros continentes sulistas. A principal razão da criação do Mercosul é, entretanto, proporcionar condições para as empresas dos países membros obterem ganhos de escala. Podendo atuar sem barreiras em vários países ao mesmo tempo, as empresas têm a possibilidade de produzir muito mais e para um número maior de consumidores, aumentando a produtividade e reduzindo o custo final dos produtos. O Mercosul é também uma forma de atrair investimentos internacionais nos países integrantes do acordo.
Portanto, podemos considerar que temos aí dois processos. O processo de globalização (igualização) e em contrapartida o processo de regionalização (diferenciação). O primeiro visto sob o aspecto econômico e o segundo no aspecto sócio-cultural.
Não menos importante aos aspectos econômicos e culturais, temos o aspecto ambiental. É importante frisar que os países desenvolvidos, retentores da tecnologia exercem pressões sobre os países periféricos, detentores da natureza. Isto porque com o avanço da urbanização em meio a tanta tecnologia, a preocupação com as reservas naturais, camada de ozônio, preservação do ecossistema e biodiversidade, permeiam o futuro da humanidade, tornando-as como alvo de discussões políticas e de domínios territoriais para desenvolvimento econômico e manutenção da qualidade de vida. Esta preocupação com o meio ambiente veio à tona no Brasil principalmente depois década de 80, onde Legislações Ambientais, como EIA/RIMA foram criadas com intuito de reduzir os impactos ambientais e ou compensá-los perante um PRAD.
Embora sejam válidas as preocupações com o meio natural, sabemos que grande parte desta intervenção é de cunho somente ideológico, a ponto de que nada está sendo feito para diminuir o acelerado processo de esgotamento dos recursos naturais, por outro lado, ambientalistas radicais confundem preservar com inutilizar a natureza. Não podemos deixar de levar em consideração que, desde os primórdios da evolução humana, dependemos dos recursos extraídos da natureza, logo, se há de convir, que com o aumento das atividades humanas, as necessidades de cada grupo social, o advento tecnológico, a patente ambiental passa a ser prioritária para a manutenção da qualidade de vida, uma vez que se trata de recursos limitados e escassos nos países industrializados.
A discussão ambiental, de fato é um assunto mundial e preocupante, longe de se finalizar por aqui. É o preço que pagamos pela nossa industrialização, tecnologia, ou seja, pelo modo de vida moderno. È a natureza globalizada! Porém, a mais difícil de ser controlada. Pois, esta, independe de nossa vontade. O homem aprendeu no decorrer dos tempos a lidar com o meio natural, mas acredito que jamais saberá controlar este sistema. Fazemos parte de um conjunto que está contido neste meio natural, sem ele, este conjunto humano não poderá se quer, existir.
Servcenko[5] “Mas o triste fato é que não foi possível encontrar em nenhum ponto da Terra, por mais distante e remoto que fosse, mesmo que entre os esquimós do Pólo Norte, algum grupo que vivesse em algum ambiente ainda não contaminado por produtos químicos industriais”.























[1] SANTOS, M. Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e Meio-técnico-Científico Informacional. São Paulo: Editora HUCITEC, 1997

[2] CASTRO, Iná Elias de; MIRANDA, Mariana;. (orgs). Redescobrindo o Brasil: 500 anos Depois. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000, 389p)
[3] “O meio técnico-científico-informacional é um meio geográfico onde o território inclui obrigatoriamente ciência, tecnologia e informação”. (SANTOS, P. 44)
[4] “...é um conjunto de técnicas e hábitos, usos e costumes construídos e passados socialmente que permitem ao homem utilizar os recursos naturais disponíveis, exprimindo uma relação entre a população e os recursos, uma situação de equilíbrio construída historicamente pelas sociedades” (CORRÊA, Espaço, um conceito chave da geografia, 1995)
[5] SEVCENKO, Nicolau. Meio ambiente, corpos e comunidades. In A corrida para o século XXI. Ed Cia das letras, 2001, pp 99

A Era dos Extremos. O Breve Século XX.




BIBLIOGRAFIA:

HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. O Breve Século XX. São Paulo: Cia. das Letras, 2º ed, 2002, 598 P.

Danos Sócio-Ambientais Urbanos no Município de Juiz de Fora

Danos Sócio-Ambientais Urbanos no Município de Juiz de Fora

A Sistematização de Geografia: Humboldt e Ritter.



A Sistematização de Geografia: Humboldt e Ritter.


Bibliografia
Moraes, A.C.R. A Sistematização da Geografia: Humboldt e Ritter. In: Geografia    Pequena História Crítica. São Paulo. Ed.Hucitec, 4º edição, 1983.

    SODRÉ. Introdução a Geografia: A geopolítica.

    SODRÉ, Nelson Werneck. Introdução à Geografia: A Geopolítica. 2ºed. Petrópolis, Ed.Vozes, (s.d.)



    A Geopolítica


    O autor Nelson Werneck Sodré, pesquisador e historiador autodidata, faleceu com oitenta e oito anos de idade, carioca e militar reformado como general, ele era membro do partido comunista, foi preso durante o regime militar no Brasil e suas obras foram censuradas durante este período. Sodré não teve formação acadêmica, mas algumas de suas obras estão sendo reeditadas e homenageadas entre as  Universidades paulistas como resgate de seu pensamento
    No texto, o autor descreve a influência do determinismo geográfico com a geopolítica baseado na obra de Ratzel – antropogeógrafo-, onde justifica o espaço vital- o homem é fruto do meio -, sendo a ciência vinculada a ideologia. Havendo controvérsias aos chamados possibilistas – como Vidal de Lablache, francês -, que trabalha uma ciência de classe, baseado no gênero de vida  - o homem se adapta ao meio -, e na geografia cultural que justificou uma fase da história da colonização e dominação da burguesia.
    A Geopolítica oriunda da geografia da fase imperialista, origina uma falsa democracia obscura, anticultural  e neocolonialista chamada de fascismo. A disputa imperialista por nova repartição do mundo leva a uma ascenção germânica, propiciando as condições que nos países em competição sugere a passagem do campo de Geografia para a Geopolítica como justificativa a espoliação colonialista ou imperialista.
    Com o decorrer da história e o declínio da burguesia na fase imperialista, as teorias de Ratzel encontravam caminho aberto.
    O sueco Rudolf Kjellén, influenciado pelos ideais de Ratzel, foi o formulador político da teoria geográfica, o primeiro a usar a expressão Geopolítica, que influenciou a Inglaterra, Alemanha e o Japão na corrida imperialista.. Sua influência também foi marcante no pensamento dos geógrafos alemães, discípulos de Ratzel, naquela fase especial em que os Estados Unidos entrava na guerra e começava a decadência alemã. Em 1922, a Alemanha atravessava a crise conseqüente da derrota., começava a aparecer a obra da Geopolítica, tendo como mentor desse movimento ideológico, que surge paralelamente ao nazismo, e das mesmas condições com ele se fundiria, o Major-General Karl Haurshofer, discutindo diferenças entre Geografia Política e Geopolítica, em que sustentava que esta era essencialmente dinâmica e constituía um modo de educar as massas no conceito de espaço e que seu princípio básico era: Espaço é Poder, o que se estende a influência à expansão Inglesa e Norte Americana.
    Ultrapassando seus limites com o nazismo, a Geopolítica alemã, teve sua época sombria. Um processo de capitulação da inteligência diante da força, se repetiria mais em diferentes proporções: nazismo e o fascismo, que conforme o autor “são necessariamente obscurantistas, inimigos da cultura pelo fermento da verdade que ela tem” (p. 64).
    A Geopolítica alemã teve fins trágicos, com a derrota nazi-fascista, a geopolítica passara por um transitório eclipse, revigorando novamente na chamada Guerra Fria, defendendo claramente seu conteúdo ideológico com as duas superpotências da época: Estados Unidos e União Soviética.
    Conforme Pierre George , a Geopolítica alemã foi “a pior das caricaturas da Geografia na primeira metade do século XX, justificando autoritariamente qualquer reivindicação territorial, por pseudos-argumentos científicos” (p. 70). É responsável pela catástrofe da Alemanha atual, não sendo sem razão o suicídio do Major-General Karl Haushofer em 1945, que influenciou Hitler a assumir o poder em 1933, com sua linguagem mística e palavras de ordem, o que representou o regime nazista, o que colocou em primazia, concluindo que a Geopolítica  é a Geografia do Fascismo.
                O livro faz uma análise geral do que aconteceu com o mundo na visão histórica e Geográfica durante o século XX, o texto é simples e de fácil entendimento baseado no ideal marxista do autor onde declara a catastrófica Geopolítica alemã criada pelos ideais Ratzelianos que determinou a hegemonia deste país durante a corrida imperialista justificando guerras, ganâncias pelo poder como o caso do nazismo Hitlerista, dando abertura para outros países como os Estados Unidos a lançarem neste processo de manipulação mundial que desfavorece os países dependentes que renunciam para alcançar tão alta proteção, à sua soberania econômica e política, passando a ser fornecedores de matéria-prima e mão de obra barata a preços fixados pelos compradores.
               



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    O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA

    O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA
    Na perspectiva de uma educação para a cidadania Moacir Gadotti (*)
    Estamos hoje discutindo esse tema porque a questão do projeto da escola é problemática, isto é, representa um desafio para todos os educadores. Se há algumas décadas a escola se questionava apenas sobre seus métodos, hoje ela se questionava sobre seus fins.
    Até muito recentemente a questão da escola limitava-se a uma escolha entre ser tradicional e ser moderna. Essa tipologia não desapareceu, mas não responde a todas as questões atuais da escola. Muito menos à questão do seu projeto. A crise paradigmática também atinge a escola e ela se pergunta sobre si mesma, sobre seu papel como instituição numa sociedade pós-moderna e pós-industrial, caracterizada pela globalização da economia e das comunicações, pelo pluralismo político, pela emergência do poder local. Nessa sociedade cresce a reivindicação pela autonomia contra toda forma de uniformização e o desejo de afirmação da singularidade de cada região, de cada língua etc. A multiculturalidade é a marca mais significativa do nosso tempo.
    É nesse contexto que podemos nos colocar questões como:
    - o que é projeto?
    - o que é projeto político-pedagógico da escola?
    Freqüentemente se confunde projeto com plano. Certamente o plano diretor da escola - como conjunto de objetivos, metas e procedimentos - faz parte do seu projeto, mas não é todo o seu projeto.
    Isso não significa que objetivos, metas e procedimentos não sejam necessários. Mas eles são insuficientes pois, em geral, o plano fica no campo do instituído ou melhor, no cumprimento mais eficaz do instituído, como defende hoje todo esse discurso oficial em torno da "qualidade", e em, particular da "qualidade total". Um projeto necessita sempre rever o instituído para, a partir dele, instituir outra coisa.
    (*) Moacir Gadotti, Professor titular da Universidade de São Paulo, Diretor do Instituto Paulo Freire e autor, entre outras obras, de: A educação contra a educação (Paz e Terra, 1979: Francês e Português), Convite à leitura de Paulo Freire (Scipione, 1988: Português, Espanhol, Inglês, Japonês e Italiano), História das idéias pedagógicas (Ática, 1993: Português e Espanhol), Pedagogia da práxis (Cortez, 1994: Português, Espanhol e Inglês) e Perspectivas atuais da educação (Artes Médicas, no prelo). Este texto nasceu de um debate num painel, durante a realização da Conferência Nacional de Educação para Todos (setembro de 1994), em Brasília. O autor fez diversos debates sobre o tema, entre eles em Lages (SC), em 1995 e em Mauá (SP), no ano seguinte. Mais tarde essas idéias foram tomadas com os companheiros do Instituto Paulo Freire (IPF) as desenvolvemos juntos no livro Autonomia da escola: princípios e propostas, publicado pela Editora Cortez em 1997 como primeiro número da série “Guia da escola cidadã” que serviu de texto para um Curso de Educação Continuada ministrado pelo IPF durante os anos de 1997 e 1998 para mais de 2500 diretores, supervisores, assistentes técnicopedagógicos e professores coordenadores da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Este também foi o primeiro texto que serviu de roteiro de uma série de 7 programas de TV feitos pelo IPF em parceria com a TV Educativa do Rio de Janeiro no início de 1997 com o título: Construindo a Escola Cidadã: Projeto Político-pedagógico. A leitora ou leitor que desejar aprofundar o assunto poderá consultar ainda: Ilma Passos Veiga, Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível (Campinas, Papirus, 1996), Ilma Passos e Lúcia G. de Resende (orgs), Escola: espaço do projeto políticopedagógico (Campinas, Papirus, 1998) e Bianco Zalmora Garcia, A construção do projeto políticopedagógico da escola pública na perspectiva da Teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas. 

    Dissertação de Mestrado. São Paulo, FE-USP, 1999. 

    Tornar-se instituínte. Um projeto político-pedagógico não nega o instituído da escola que é a sua história, que é o conjunto dos seus currículos, dos seus métodos, o conjunto dos seus atores internos e externos e o seu modo de vida. Um projeto sempre confronta esse instituído com o instituinte. Por exemplo, hoje a escola pública burocrática se confronta com as novas exigências da cidadania e busca de nova identidade de cada
    escola, pautas de uma sociedade cada vez mais pluralista.
    Não se constroi um projeto sem uma direção política, um norte, um rumo. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é também político. O projeto pedagógico da escola é, por isso mesmo, sempre um processo inconcluso, uma etapa em direção a uma finalidade que permanece como horizonte da escola.
    - De quem é a responsabilidade da constituição do projeto da escola?
    O projeto da escola não é responsabilidade apenas de sua direção. Ao contrário, numa gestão democrática, a direção é escolhida a partir do reconhecimento da competência e da liderança de algum capaz de executar um projeto coletivo. A escola, nesse caso, escolhe primeiro um projeto e depois essa pessoa que pode executálo. Assim realizada, a eleição de um diretor, de uma diretora, possibilita a escolha de um projeto político-pedagógico para a escola. Ao se eleger um diretor de escola o que se está elegendo é um projeto para a escola. Na escolha do diretor ou da diretora percebesse já o quanto o seu projeto é político.
    Como vimos, o projeto pedagógico da escola está hoje inserido num cenário marcado pela diversidade. Cada escola é resultado de uma processo de desenvolvimento de suas próprias contradições. Não existem duas escolas iguais. Diante disso, desaparece aquela arrogante pretensão de saber de antemão quais serão os
    resultados do projeto. A arrogância do dono da verdade dá lugar à criatividade e ao diálogo. A pluralidade de projetos pedagógicos faz parte da história da educação da nossa época.
    Por isso, não deve existir um padrão único que oriente a escolha do projeto de nossas escolas. Não se entende, portanto, uma uma escola sem autonomia, autonomia para estabelecer o seu projeto e autonomia para executá-lo e avaliá-lo.
    A autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte da própria natureza do ato pedagógico. A gestão democrática da escola é, portanto, uma exigência de seu projeto político-pedagógico.
    Ela exige, em primeiro lugar, uma mudança de mentalidade de todos os membros da comunidade escolar. Mudança que implica deixar de lado o velho preconceito de que a escola pública é apenas um aparelho burocrático do Estado e não uma conquista da comunidade. A gestão democrática da escola implica que a comunidade, os usuários da escola, sejam os seus dirigentes e gestores e não apenas os seus fiscalizadores ou meros receptores dos serviços educacionais. Na gestão democrática pais, alunos, professores e funcionários assumem sua parte de responsabilidade pelo projeto da escola.
    Há pelo menos duas razões que justificam a implantação de um processo de gestão democrática na escola pública: 
    1ª porque a escola deve formar para a cidadania e, para isso, ela deve dar o exemplo. A gestão democrática da escola é um passo importante no aprendizado da democracia. A escola não tem um fim em si mesma. Ela está a serviço da comunidade. Nisso, a gestão democrática da escola está prestando um serviço também à comunidade que a mantém.
    2ª porque a gestão democrática pode melhorar o que é específico da escola, isto é, o seu ensino. A participação na gestão da escola proporcionará um melhor conhecimento do funcionamento da escola e de todos os seus atores; propiciará um contato permanente entre professores e alunos, o que leva ao conhecimento mútuo e, em conseqüência, aproximará também as necessidades dos alunos dos conteúdos ensinados pelos professores.
    O aluno aprende apenas quando ele se torna sujeito da sua aprendizagem. E para ele tornar-se sujeito da sua aprendizagem ele precisa participar das decisões que dizem respeito ao projeto da escola que faz parte também do projeto de sua vida. Passamos muito tempo na escola, para sermos meros clientes dela. Não há educação e aprendizagem sem sujeito da educação e da aprendizagem. A participação pertence à própria natureza do ato pedagógico.
    A autonomia e a participação - pressupostos do projeto político-pedagógico da escola - não se limitam à mera declaração de princípios consignados em algum documento. Sua presença precisa ser sentida no conselho de escola ou colegiado, mas também na escolha do livro didático, no planejamento do ensino, na organização de eventos culturais, de atividades cívicas, esportivas, recreativas. Não basta apenas assistir reuniões.A gestão democrática deve estar impregnada por uma certa atmosfera que se respira na escola, na circulação das informações, na divisão do trabalho, no estabelecimento do calendário escolar, na distribuição das aulas, no processo de elaboração ou de criação de novos cursos ou de novas disciplinas, na formação de
    grupos de trabalho, na capacitação dos recursos humanos, etc. A gestão democrática é, portanto, atitude e método. A atitude democrática é necessária, mas não é suficiente.
    precisamos de métodos democráticos de efetivo exercício da democracia. Ela também é um aprendizado, demanda tempo, atenção e trabalho. 
    Existem, certamente, algumas limitações e obstáculos à instauração de um processo democrático como parte do projeto político-pedagógico da escola. Entre eles, podemos citar: 
    a) a nossa pouca experiência democrática;
    b) a mentalidade que atribui aos técnicos e apenas a eles a capacidade de governar e que o povo incapaz de exercer o governo;
    c) a própria estrutura de nosso sistema educacional que é vertical;
    d) o autoritarismo que impregnou nosso ethos educacional;
    e) o tipo de liderança que tradicionalmente domina nossa atividade política no campo educacional.
    Enfim, um projeto político-pedagógico da escola apoia-se:
    a) no desenvolvimento de uma consciência crítica;
    b) no envolvimento das pessoas: a comunidade interna e externa à escola;
    c) na participação e na cooperação das várias esferas de governo;
    d) na autonomia, responsabilidade e criatividade como processo e como produto
    do projeto.
    O projeto da escola depende sobretudo da ousadia dos seus agentes, da ousadia de cada escola em assumir-se como tal, partindo da cara que tem, com o seu cotidiano e o seu tempo-espaço.
    Um projeto político-pedagógico se constrói de forma interdisciplinar. Não basta trocar de teoria como se ela pudesse salvar a escola. A escola que precisa ser salva, não merece ser salva. Pelo que foi dito até agora, o projeto pedagógico da escola pode ser considerado como um momento importante de renovação da escola. Projetar significa “lançar-se para a frente”, antever um futuro diferente do presente. Projeto pressupõe uma ação intencionada com um sentido definido, explícito, sobre o que se quer inovar. Nesse processo podem-se distinguir dois momentos: 
    a) o momento da concepção do projeto;
    b) o momento da institucionalização ou implementação do projeto.
    Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro.
    Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores.
    A noção de projeto implica sobretudo tempo:
    a) Tempo político que define a oportunidade política de um determinado projeto.
    b) Tempo institucional. Cada escola encontra-se num determinado tempo de sua história. O projeto que pode ser inovador para uma escola pode não ser para outra.
    c) Tempo escolar. O calendário da escola, o período no qual o projeto é elaborado é também decisivo para o seu sucesso;
    d) Tempo para amadurecer as idéias. Só os projetos burocráticos são impostos e, por isso, revelam-se ineficientes a médio prazo. Há um tempo para sedimentar idéias. Um projeto precisa ser discutido e isso leva tempo. Há evidentemente outros componentes do projeto, sem os quais seu êxito pode ficar comprometido.
    Como elementos facilitadores de êxito de um projeto, podemos destacar:
    1º Uma comunicação eficiente. Um projeto deve ser factível e seu enunciado facilmente compreendido.
    2º Adesão voluntária e consciente ao projeto. Todos precisam estar envolvidos. A co-responsabilidade é um fator decisivo no êxito de um projeto;
    3º Bom suporte institucional e financeiro, que significa: vontade política,
    pleno conhecimento de todos - principalmente dos dirigentes - e recursos financeiros claramente definidos.
    4º Controle, acompanhamento e avaliação do projeto. Um projeto que não pressupõe constante avaliação não consegue saber se seus objetivos estão sendo atingidos.
    5º Uma atmosfera, um ambiente favorável. Não é desprezível um certo componente mágico-simbólico para o êxito de um projeto, um certa mística (ou ideologia) que cimenta a todos os que se envolvem no “design” de um projeto;
    6º Credibilidade. As idéias podem ser boas, mas, se os que as defendem não tem prestígio, comprovada competência e legitimidade só pode obstaculizar o projeto. 
    7º Um bom referencial teórico que facilite encontrar os principais conceitos e a estrutura do projeto.
    A falta desses elementos obstaculiza a elaboração e a implantação de um projeto novo para a escola. A implantação de um novo projeto político-pedagógico da escola enfrentará sempre a descrença generalizada dos que pensam que nada adianta projetar uma boa escola enquanto não houver vontade política dos de cima. Contudo, o pensamento e a prática dos de cima não de modificará enquanto não existir pressão dos de baixo. Um projeto político-pedagógico da escola deve constituir-se num verdadeiro processo de conscientização e de formação cívica; deve constituir-se num processo de repercussão da importância e da necessidade do planejamento na educação. Tudo isso exige certamente uma educação para a cidadania.
    - O que é "educar para a cidadania"?
    A resposta a essa pergunta depende da resposta à outra pergunta: "o que é cidadania?"

    Pode-se dizer que cidadania é essencialmente consciência de direitos e deveres e exercício da democracia. Não há cidadania sem democracia.
    A democracia fundamenta-se em três direitos:
    - direitos civis, como segurança e locomoção;
    - direitos sociais, como trabalho, salário justo, saúde, educação, habitação, etc.
    - direitos políticos, como liberdade de expressão, de voto, de participação em partidos políticos e sindicatos, etc.
    O conceito de cidadania, contudo, é um conceito ambíguo. Em 1789 a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão estabelecia as primeiras normas para assegurar a liberdade individual e a propriedade. Existem diversas concepções de cidadania: a liberal, a neoliberal, a progressista ou socialista democrática (o socialismo autoritário e burocrático não admite a democracia como valor universal e despreza cidadania como valor progressista).
    Existe hoje uma concepção consumista de cidadania (não ser enganado na compra de um bem de consumo) e uma concepção oposta que é uma concepção plena de cidadania que consiste na mobilização da sociedade para a conquista dos direitos acima mencionados e que devem ser garantidos pelo Estado. A concepção liberal e neoliberal de cidadania entende que a cidadania é apenas um produto da solidariedade individual (da "gente de bem") entre as pessoas e não uma conquista no interior do próprio Estado. A cidadania implica em instituições e regras justas. O Estado, numa visão socialista democrática precisa exercer uma ação - para evitar, por exemplo, os abusos econômicos dos oligopólios - fazendo valer as regras definidas socialmente.
    A cidadania e autonomia são hoje duas categorias estratégicas de construção de uma sociedade melhor em torno das quais há freqüentemente consenso. Essas categorias se constituem na base da nossa identidade nacional tão desejada e ainda tão longínqua em função do arraigado individualismo, tanto das nossas elites quanto das fortes corporações emergentes, ambas dependentes do Estado paternalista.
    O movimento atual da chamada "escola cidadã" está inserido nesse novo contexto histórico de busca de identidade nacional. A "escola cidadã" surge como resposta à burocratização do sistema de ensino e à sua ineficiência. Surge como resposta à falência do ensino oficial que, embora seja democrático, não consegue garantir a qualidade e em resposta também ao ensino privado às vezes eficiente, mas sempre elitista.
    É nesse contexto histórico que vem se desenhando o projeto e a realização prática da escola cidadã em diversas partes do país, como uma alternativa nova e emergente. Ela vem surgindo em numerosos Municípios e já se mostra nas preocupações dos dirigentes educacionais em diversos Estados brasileiros.
    Movimentos semelhantes já ocorreram em outros países. Vejam-se as "Citizenship Schools" que surgiram nos Estados Unidos nos anos 50, dentro das quais se originou o importante movimento pelos Direitos Civis naquele país, colocando dentro das escolas americanas a educação para a cidadania e o respeito aos direitos sociais e humanos.
    Os eixos norteadores da escola cidadã são: a integração entre educação e cultura, escola e comunidade (educação multicultural e comunitária), a democratização das relações de poder dentro da escola, o enfrentamento da questão da repetência e da avaliação, a visão interdisciplinar e transdiciplinar e a formação permanente dos educadores.
    De minha experiência vivida nesses últimos anos, tentando entender esse movimento, algumas lições posso tirar que me levam a acreditar nessa concepção/realização da educação. Por isso, baseado nessa crença, apresentei um "decálogo" no livro Escola cidadã em 1992. Para mim, a escola cidadã surge como uma realização concreta dos ideais da escola pública popular, cujos princípios venho defendendo, ao lado de Paulo Freire, nas últimas duas decadas. Concretamente, dessa experiência vivida pude tirar algumas lições. Para finalizar gostaria de mencionar pelo menos quatro:
    1ª A escola não é o único local de aquisição do saber elaborado. Aprendemos também nos fins de semana, como costuma dizer Emília Ferreiro.
    2ª Não existe um único modelo capaz de tornar exitosa a ação educativa da escola. Cada escola é fruto de seus próprias contradições. Existem muitos caminhos, inclusive para a aquisição do saber elaborado. E o caminho que pode ser válido numa determinada conjuntura, num determinado local ou contexto, pode não sê-lo em outra conjuntura ou contexto. Por isso, é preciso incentivar a experimentação pedagógica e, sobretudo, é preciso que tenhamos uma mentalidade aberta ao novo. Não vamos ativar pedras no caminho de ninguém que queira inovar em educação.
    3ª Todos não terão acesso à educação enquanto todos - educadores e não educadores, Estado e Sociedade Civil - não se interessarem por ela. A educação para todos supõe todos pela educação.
    4ª Houve uma época na qual eu pensava que as pequenas mudanças impediam a realização de uma grande mudança. Por isso, no meu entender, as pequenas mudanças deveriam ser evitadas e todo o investimento deveria ser feito numa mudança radical e ampla. Hoje, minha certeza é outra: penso que, no dia-a-dia, mudando passo a passo, com pequenas mudanças numa certa direção, podemos operar a grande mudança, a qual poderá acontecer como resultado de um esforço contínuo, solidário e paciente. E o mais importante: isso pode ser feito já. Não é preciso mais esperar para mudar.
    Mesmo assim, não devemos renunciar ao nosso sonho da "grande" mudança, não devemos jogar no lixo nossa utopia revolucionária. Precisamos sobretudo da utopia neo-socialista contra o cinismo neoliberal que prega o fim da utopia e da história. Estou convencido, acima de tudo, que a educação deve passar não por uma "melhoria da sua qualidade", como sustenta o Banco Mundial, mas por uma transformação radical, exigência premente e concreta de uma mudança estrutural provocada pela inevitável globalização da economia e das comunicações, pela revolução da informática a ela associada e pelos novos valores que estão refundando instituições e convivência social na emergente sociedade pós-moderna.