PEDROZA, Márcia Flaire. Políticas Educacionais e Desigualdades Sociais.


PEDROZA, Márcia Flaire.  Políticas Educacionais e Desigualdades Sociais.  Disponível em: http://www.apropucsp.org.br/r13r4.htm.  Acessado em 3/10/2003.


A partir da década de 60 desenvolveu-se a teoria do capital humano e, com ela, a percepção da educação e do potencial humano enquanto elementos de extrema importância para o crescimento da economia.
O neoliberalismo e a globalização vêm acentuando as necessidades da qualificação na educação, uma vez que é exigido um maior preparo para o mercado devido à competitividade mundial. No Brasil, o investimento em Educação há muito vem sendo pautado nos ideais neoliberais, ou seja, maior qualificação do ensino, medida pela quantificação, teve seu auge no governo FHC com as políticas educacionais, que almejava universalizar o ensino para gerar trabalhadores mais qualificados e por conseguinte, um maior desenvolvimento.
Esta visão errônea está um pouco fora da realidade. Não podemos esquecer o exemplo que ocorreu no Brasil na década de 1980, onde fora formada mão-de-obra qualificada e despejada num mercado despreparado que não absorveu este contingente. Este exemplo serve para fazermos uma analogia com os dias atuais. O mercado vem qualificando mão-de-obra, mas a economia continua estagnada, fazendo com que aumente a competitividade no mercado, desvalorizando os salários e agregando cada vez mais valor ao capital, e como a maior parte do capital é internacional, a renda é remetida cada vez mais para o exterior.
Não basta somente investir em políticas educacionais se não dermos a devida atenção para a questão social. No modelo neoliberal, a redução de gastos públicos e o não investimento estatal, em serviços sociais, torna impossível a obtenção de resultados na política educacional. O descaso com a saúde, emprego e produção reflete diretamente no crescimento econômico ressaltando os problemas com as desigualdades sociais, que estão fortemente refletidas na distribuição de renda do país, fazendo com que as oportunidades de estudo e trabalho estejam conectados às diferenças de classes.
Márcia Flaire destaca: “A política educacional de um governo comprometido com a democracia deve formar cidadãos educados e politicamente articulados, conscientes dos direitos humanos básicos. Portanto, além da quantidade, as políticas educacionais devem primar pela qualidade e por priorizar o indivíduo social e não o mercado.”
Vivemos num país democrático, em fase de crescimento econômico. Ë obvio que a educação é um patamar para o desenvolvimento, mas esta deve ser ressaltada junto com outras prioridades para que possamos disponibilizar de melhores oportunidades independentes de nossa origem e ou classe social.

CORRÊA, R.L. O espaço regional.

CORRÊA, R.L. O espaço regional.  In: Região e organização espacial. SP.Ática, 1990. Pp. (99 a 107).


Roberto Lobato Corrêa exerceu a função de pesquisador no Departamento de Geografia do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no período de 1959 à 1993 e atualmente é professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde atua desde 1971. Em sua vasta produção, publicou vários artigos em diversas revistas de âmbito geográfico. Foi o organizador de alguns livros e escreveu ainda três pequenos manuais (a rede urbana, o espaço urbano e região e organização espacial) que são de fundamental importância para o entendimento do espaço geográfico.
Em seu texto O Espaço Regional, Roberto Lobato analisa o espaço regional, observando sempre a infinidade de definições e adjetivos que esta expressão carrega em si.  Isto porque ele afasta a noção de elemento para dar lugar à noção de  aspecto, propondo o espaço regional como “uma porção organizada de acordo com um sistema e que se insere num conjunto mais vasto”.
O autor distingue dois tipos de regiões: a região natural e a região histórica. A primeira seria uma parte do espaço terrestre que se constitui através da intervenção de dados físicos; no qual as conseqüências de um fato natural correspondem à sua evolução geográfica. Podemos dizer, portanto, que a região Amazônica é um exemplo deste tipo de região, pois é um conjunto caracterizado pelo clima; a sucessão de paisagens dessa parte do globo é o resultado da combinação de inúmeros fatores físicos (vegetação, hidrografia etc.). A região histórica, de acordo com o autor, seria o produto de um longo passado compartilhado por uma coletividade e que ocupou um determinado território; o espaço que foi configurado pelas peculiaridades e necessidades de uma determinada cultura. Donde pode-se inferir que na região histórica o aspecto político passado prevalece sobre a paisagem.  A região da Borgonha na França é um bom exemplo, pois sua formação e importância devem-se às ações de comunidades que ali mantiveram durante séculos uma prática habitual de plantio e colheita (principalmente de uvas e mostarda) em pequenas propriedades.  Assim, as paisagens dessa região foram sendo agrupadas  e moldadas pelo complexo político e social que ali se desenvolveu.
 A existência das cidades e de suas relações são de fundamental importância para a formação das regiões, principalmente quando constituem pólos – “conjuntos de unidades motoras que exercem efeitos de atração, frente a outros conjuntos econômico e territorialmente definidos” (Perroux).   A polarização só é possível onde há concentração urbana com uma rede convergente e diversificada de vias de comunicação e de linhas de telecomunicação, fazendo com que haja inter-relações com outras regiões polarizadas, funcionando assim como uma rede urbana complementar de relações hierarquizadas.
As regiões, tais quais os organismos, nascem, desenvolvem-se e perecem.  Ao longo de sua existência sofrem alterações dos mais diversos tipos (ocupação/desocupação humana, mudanças climáticas etc.), às vezes internamente, às vezes em suas orlas e limites.  Cabe ao pesquisador estudar as regiões individualmente, percebendo suas coerências e articulações para entende-las melhor e assim ter uma noção o mais exata possível da organização do espaço geográfico.

Migrações Internas no Brasil

Bibliografia

SINGER, Paul. Economia Política da Urbanização. In: __Migrações internas: considerações  teóricas sobre o estudo. São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 29-60.

RIBEIRO, Darcy.  A urbanização caótica.  In. ---.  O povo brasileiro: a    formação e o sentido do Brasil.  São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.  198 – 204.



Migrações internas no Brasil

Define-se como migração interna o movimento de pessoas  que se processa dentro de um mesmo país, apresentando várias modalidades : - migração inter-regional, aquela realizada entre regiões ; - migração intra- regional , a migração dentro de uma mesma região ; -transumância , nome dado aos movimentos pendulares de população ou seja, deslocamentos populacionais temporários relacionados às estações do ano, às atividades econômicas, às condições climáticas, etc; - êxodo rural  , também denominado migração campo - cidade , é um movimento horizontal de população .
            Paul Singer cita alguns fatores de expulsão que levam às migrações ; estes são de duas ordens : fatores de mudança os que decorrem da introdução de relações de produção capitalistas nas áreas de produção para subsistência, a qual acarreta a expropriação de camponeses, a expulsão de agregados, parceiros e outros agricultores não proprietários ;  fatores de estagnação, os que se manifestam sob a forma de uma crescente pressão populacional sobre uma disponibilidade de áreas cultiváveis que pode ser limitada tanto pela insuficiência física de terra aproveitável como pela monopolização de grande parte da mesma pelos grandes proprietários ( Ex : Agreste do NE brasileiro) .
Do ponto de vista econômico, os fatores de mudança têm um sentido oposto aos de estagnação. Os de mudança fazem parte do processo de industrialização, na medida em que este atinge a agricultura, trazendo consigo mudanças de técnica e, em conseqüência aumento da produtividade do trabalho.  Os de estagnação resultam da incapacidade dos produtores em economia de subsistência de elevarem a produtividade da terra. Os fatores de mudança provocam um fluxo maciço de emigração, o que leva à redução do tamanho absoluto da população rural.
Os fatores de expulsão indicam as áreas de origem dos fluxos migratórios, mas os de atração determinam a orientação destes fluxos e as áreas às quais se destinam. Dentre os fatores de  atração , o mais importante é a demanda por força de trabalho, “ oportunidades econômicas” - há, entretanto, uma série de obstáculos entre o migrante e a “ oportunidade econômica” que em tese a grande cidade industrial lhe oferece: a falta de qualificação necessária do migrante para a vida no mercado de trabalho da cidade, e também, seus padrões sócio-culturais, bastante diferentes daqueles próprios da cidade.
É importante aqui ressaltar que, nem todos os migrantes provêm do proletariado rural, bom número deles compõem-se de migrantes que pertencem a outras  categorias profissionais e a outras classes  sociais – esses, migram por motivos outros, e também, o fato de migrarem não os fazem perder sua classe social.
Os setores da economia que mais empregam migrantes recém-chegados à cidade, como a de São Paulo, são construção civil ( ajudante de pedreiro) para os homens , e emprego em casa de família (domésticas) para mulheres.
A partir da década de 30, o mercado consumidor, a mão-de-obra especializada e as infra-estruturas do país definiram o eixo Rio - São Paulo como área de centralização política e econômica. Nos anos 30, São Paulo supera o Rio de Janeiro no aspecto industrial, favorecido principalmente por uma hinterlândia mais povoada, além de avanços tecnológicos, industriais e pela diversificação na sua agricultura, gerando um novo complexo de relações campo-cidade. No, Brasil a ruptura da economia agrícola para a industrial gerou movimentos migratórios com primazia para os rurais - rurais e mais tarde os urbanos- urbanos.
Para entender melhor esses fluxos migratórios, seria necessário investigar a origem e o destino contemporâneos e a composição qualitativa desses fluxos. No Sudeste, rurais-urbanos (intra e inter- regionais ), para São Paulo e Rio de Janeiro- correspondem ao período de expansão econômica desses estados, embora as áreas rurais paulistas tenham experimentado fluxos migratórios significativos do tipo rural - rural. No Nordeste, intensificou-se a emigração para o Sul, principalmente na década de 50, devido às contínuas secas que atingiram o interior da região, o que representou forte estímulo à expulsão da população, dessa região. Dados estatísticos demonstram a intensidade da grandes centros urbanos. emigração dessas duas áreas :
De MG saíram 1,25 milhões / hab. e da região NE  1,0 milhão / hab.  no período de 1960 -1970 ; já o censo de 1980 registra uma sensível mudança nesses índices de emigração.
Durante a década de 50-60  houve um grande fluxo migratório para a região CW com  a construção e instalação de Brasília.
A migração em direção às cidades, no Brasil, aconteceu apesar das variações regionais e do período histórico. Verifica-se ainda que o crescimento das cidades ocorreu juntamente com  transformações da estrutura da rede urbana do país. Destaca-se uma grande variação do tipo de cidades; um crescente predomínio das metrópoles, e também, uma variação regional dos índices de urbanização, que refletem um desenvolvimento econômico diferencial e associa o crescimento das cidades ao processo de industrialização e às migrações internas interestaduais.
            Há diferenças profundas entre as diversas regiões metropolitanas. Elas atuam tanto como áreas de atração, como de repulsão de migrantes. Belo Horizonte é a região de maior retenção e as regiões metropolitanas nordestinas as de menor retenção. Nos dias atuais, nota-se em algumas regiões metropolitanas menor papel de atração migratória.  A retenção, é muitas vezes, seletiva dos indivíduos mais capacitados e dinâmicos; essa seletividade relaciona-se com a estratificação residencial das metrópoles.
O grande fluxo migratório em direção às grandes cidades principalmente Rio de Janeiro e São Paulo provocou um crescimento urbano acelerado, aprofundando uma tendência que se vinha observando a “ perifização” dos bairros ou mesmo a “ favelização”. Nota-se que uma grande parcela dos migrantes  insere-se no mercado de trabalho, na construção civil, serviços domésticos e braçais, profissões menos valorizadas, que não exigem qualificação profissional  e, em conseqüência, menos remuneradas, o que os faz  residir em bairros populares periféricos ou favelas.
Não é  somente a simples atração exercida pelas cidades que explica o fenômeno de migração e da urbanização no Brasil, ela é um desses fatores. Em vários períodos até os dias atuais, muitos movimentos migratórios ocorreram em direção a diversas regiões e ou cidades do Brasil,  como a marcha para o CW , para o norte do Paraná, Rondônia, Amazônia e, atualmente para algumas áreas do NE e para cidades interioranas , como para as do sul de Minas , interior de São Paulo, etc. A migração para cidades interioranas, nos dias atuais, é um reflexo da desconcentração das atividades econômicas e da busca de melhor qualidade de vida , mais segurança, busca de lugares de maiores amenidades, por parte de muitos  que antes residiam nas grandes cidades.
A redução das taxas de crescimento das grandes regiões metropolitanas no Brasil, sinaliza para um outro fenômeno: a redução das migrações internas, principalmente as inter - regionais. Os grandes centros urbanos deixaram de ter o enorme poder de atração das décadas anteriores, não só pela crise econômica expressa na retração do mercado de trabalho, mas pela dimensão social que ela encerra. É importante chamar atenção para um fenômeno recente, fundamental na sociedade brasileira: o descolamento  da “mobilidade espacial” para a  “ mobilidade social”.
É importante salientar que essa possibilidade de mobilidade social está tendendo a esgotar-se. O emprego em mercados de trabalho “menos nobres” ou em espaços secundários tornou-se mais competitivo. Simultaneamente, os mercados de trabalho dos setores mais modernos da economia tornaram-se mais fechados e oligopolizados. Os pré-requisitos para a entrada nesse mercado também tornaram-se mais rígidos quanto a formação profissional. As crises econômico-  sociais, também agravaram essa situação, mesmo os setores que conseguiram voltar a crescer, não recuperaram, na mesma proporção, as suas taxas de absorção de mão-de-obra , porque o crescimento desses setores, dentro do padrão internacional da “restruturação produtiva” tem economizado largamente a mão-de-obra.
Como conclusão, é de grande importância a migração interna no desenvolvimento econômico - social e na urbanização do Brasil. A migração interna responde por 70% da população urbana brasileira; os migrantes , no conjunto, constituem a maior parte da PEA, no Brasil. Em São Paulo, ressaltamos o papel dos migrantes, principalmente nordestinos, em sua urbanização, economia, sociedade e cultura, papel muitas vezes relegado a um segundo plano. Sabe-se que , historicamente, o número de mineiros e nordestinos ,em São Paulo, tem sido superior ao de imigrantes estrangeiros.

   

CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço: um conceito-chave da geografia.

Bibliografia

CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço: um conceito-chave da geografia. In: CASTRO, Iná Elias, GOMES, Paulo César da Costa, CORRÊA, Roberto Lobato (orgs.) Geografia: Conceitos e Temas. 5ª edição. Bertrand: Rio de Janeiro, 2003.


ESPAÇO, UM CONCEITO-CHAVE DA GEOGRAFIA

“A expressão espaço geográfico ou simplesmente espaço, aparece como vaga, ora estando associada a uma porção específica da superfície da Terra identificada seja pela natureza, seja por um modo particular como o Homem ali imprimiu as suas marcas, seja com referência a simples localização.” (p.15)

O ESPAÇO E AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO

“... Como ciência social a geografia tem como objeto de estudo a sociedade que se refere a ação humana modelando a superfície terrestre: paisagem, região, espaço, lugar e território.”(p.16)
“... Lugar e região, tem sido diferentemente conceitualizado segundo as diversas correntes da geografia. Ressalta-se, a propósito, que o debate tem sito extremamente salutar pois se revela conflitos, permite, por isso mesmo, avanços na teoria geográfica... o embate conceitual não é exclusivo a geografia: vejam-se, por exemplo, os conceitos de valor entre os economistas, classe social entre os sociólogos e cultura entre os antropólogos.”(p.16)

Espaço e a geografia tradicional

“O conjunto de correntes que caracterizou a geografia no período que se estende de 1870 aproximadamente,... a década de 1950, quando verificou-se a denominada revolução teorético-quantitativa, é por nós identificado como geografia tradicional, que antecede as mudanças que se verificarão nas décadas de 1950, primeiramente, e, depois, na de 1970.”(p.17)
“A geografia tradicional privilegiou os conceitos de paisagem e região, em torno dele estabelecendo-se a discussão sobre o objeto da geografia e a sua identidade no âmbito das demais ciências....os debates incluíam os conceitos de paisagem, região-natural e região-paisagem, assim como os de paisagem cultural, gênero de vida e diferenciação de áreas. Envolviam geógrafos vinculados ao positivismo e ao historicismo, ...aqueles geógrafos deterministas, possibilistas, culturais e regionais.”(p.17)
“O espaço não se constitui em um conceito chave na geografia tradicional. Está presente na obra de Ratzel e de Hartshorne, ainda que, como no caso do segundo, de modo implícito.”(p.17)
“O espaço em Ratzel é visto como base indispensável para a vida do homem, encerrando as condições de trabalho, quer naturais, quer aqueles socialmente produzidos.”(p.18)
“Ratzel desenvolve assim dois conceitos....Trata-se do conceito de território e de espaço vital, ambos com fortes raízes na ecologia. O primeiro vinculado à apropriação de uma porção do espaço por um determinado grupo, enquanto o segundo expressa as necessidades territoriais de uma sociedade em função do seu desenvolvimento tecnológico, de total de população e de recursos naturais.... A preservação e ampliação do espaço vital constitui-se, na formulação ratzeliana, na própria razão de ser do Estado”(p.18)
“O espaço transforma-se, assim, através da política, em território, em conceito chave da geografia.”(p.18)
“O espaço na visão hartshoriana é o espaço absoluto, isto é, um conjunto de pontos que tem existência em si, sendo independente de qualquer coisa...A geografia constituir-se-ia na ciência que estudaria todos os fenômenos organizados espacialmente, enquanto a história, por outro lado, estudar os fenômenos segundo a dimensão tempo.”(p.18)
““...é somente um quadro intelectual do fenômeno, um conceito abstrato que não existe em realidade(...) a área, em si própria, está relacionada aos fenômenos dentro dela, somente naquilo que ela os contém em tais localizações.” (HARTSHORNE, 1939, p.395).” (p.19)
“...Estamos de acordo com Harvey (1973) quando este argumenta que as diferentes práticas humanas estabelecem diferentes conceitos de espaço, conceitos que sob certas circunstâncias são por nós empregados.”(p.19)
  
Espaço e a geografia teorético-quantitativa

“Calcada no positivismo lógico a revolução teorético-quantitativa da década de 1950 introduziu profundas modificações na geografia... Adotou-se a visão da unidade epistemológica da ciência, unidade calcada nas ciências da natureza, mormente a física. O raciocínio hipotético-dedutivo foi, em tese, consagrado como aquele mais pertinente e a teoria foi erigida em culminância intelectual.”(p.20)
“Tanto em Schaefer como Bunge, assim como em ULLMAN (1954) e WATSON (1955), o espaço aparece, pela primeira vez na história do pensamento geográfico, como o conceito-chave da disciplina ...Lugar e território não são conceitos significativos na geografia teorético-quantitativa.”(p.20)
“...o espaço é considerado sob duas formas que não são mutuamente excludentes... de planícies isotrópicas e , de sua representação matricial.”(p.20)
“A planície isotrópica é uma construção teorética que resume uma concepção de espaço derivada de um paradigma racionalista e hipotético-dedutivo...há uma uniforme densidade demográfica, de renda e de padrão cultural que se caracteriza, entre outros aspectos, pela adoção de uma racionalidade econômica fundada na minimização dos custos e maximização dos lucros ou da satisfação. A circulação nesta planície é possível em todas as direções.”(p.21)
“Sobre esta planície de lugares iguais desenvolvem-se ações e mecanismos econômicos que levam à diferenciação do espaço”(p.21)
“Na planície isotrópica a variável mais importante é a distância, aquela que determina em um espaço previamente homogêneo a diferenciação espacial.”(p.21)
“Harvey (1969) ... o espaço relativo é entendido  a partir das relações entre os objetos, relações estas que implicam em custos- dinheiro, tempo, energia- para se vencer a fricção imposta pela distância. É no espaço relativo que se obtêm rendas diferenciais (de localização) e que desempenham papel fundamental na determinação do uso da terra.”(p.22)
“...a geografia como uma ciência espacial, que estudaria fenômenos sociais e da natureza sob um ângulo comum, o espacial, que forneceria assim a unidade à geografia. Deste modo rios e lugares centrais poderiam ser analisados com o mesmo método e mesma linguagem.”(p.22)
“as representações matricial e topológica devem, no nosso entender, se constituir em meios operacionais que nos permitam extrais um conhecimento sobre localizações e fluxos, hierarquias e especializações funcionais, sendo, neste sentido, uma importante contribuição que, liberada de alguns de seus pressupostos como a planície isotrópica, a racionaliodade econômica, a competição perfeita e a a-hitoricidade dos fenômenos sociais, pode ajudar na compreensão da organização espacial.” (p.23)

Espaço e geografia crítica

“A década de 1970 viu o surgimento da geografia crítica fundada no materialismo histórico e na dialética. Trata-se de uma revolução que procura romper, de um lado, com a geografia tradicional e, de outro, com a geografia teorética-quantitativa. Intensos debates entre geógrafos marxistas e não-marxistas ocorrem a partir daquela década.”(p.23)
“... o espaço reaparece como o conceito-chave”(p.23)
“A favor de Marx está o artigo de FARVEY (1975), no qual pretende reconstruir geograficamente a teoria marxiana, cuja dimensão espacial foi larga e longamente ignorada. O negligenciamento da dimensão espacial no marxismo ocidental é discutido por SOJA e HADJIMICHALIS (1979). Segundo estes autores, os marxistas tinham abordado o espaço de modo semelhante àquele das ciências burguesas, considerando-o como um receptáculo ou como um espelho externo da sociedade.”(p.24)
“O desenvolvimento da análise do espaço no âmbito da teoria marxista deve-se, em grande parte, “à intensificação das contradições sociais e espaciais tanto nos países centrais como periféricos”, devido à crise geral do capitalismo durante a década de 1960.”(p.25)
“O espaço aparece efetivamente na análise marxista a partir da obra de Henri Lefébvre. Em seu Espacio y Política argumenta que o espaço “desempenha um papel ou uma função decisiva na estruturação de um totalidade, de uma lógica, de um sistema.”(p.25)
“O espaço é o lócus da reprodução das relações sociais de produção.”(p.25)
“Esta concepção de espaço marca profundamente os geógrafos que, a partir da década de 1970, adotaram o materialismo histórico e dialético como paradigma.”(p.26)
“...uma sociedade sé se torna concreta através de seu espaço, do espaço que ela produz e, por outro lado, o espaço só é inteligível através da sociedade. Não há, assim, por que falar em sociedade e espaço como se fossem coisas separadas que nos reuniríamos a posteriori, mas sim de formação sócio-espacial.”(p.27)
“Segundo Milton Santos... o espaço organizado pelo homem é como as demais estruturas sociais, uma estrutura subordinada-subordinante. E como as outras instâncias, o espaço, embora submetido a lei da totalidade, dispões de uma certa autonomia...”(p.28)
“Em realidade o espaço organizado pelo homem desempenha um papel na sociedade, condicionando-a, compartilhando do complexo processo de existência e reprodução social.”(p.28)
“Buch-hanson e Nielsen (1977) e de Coraggio (1979), Corrêa (1986),... organização espacial é o conjunto de objetos criados pelo homem e dispostos sobre a superfície da Terra.” (p.28)
            “Segundo Santos (1985) o espaço deve ser analisado a partir das categorias estrutura, processo, função e forma, que devem ser consideradas em suas relações dialéticas.”(p.28)
“De acordo co Santos, forma é o aspecto visível, exterior, de um objeto, seja visto isoladamente, seja considerando-se o arranjo de um conjunto de objetos, formando um padrão espacial.”(p.28)
“A noção de função implica uma tarefa, atividade ou papel a ser desempenhado pelo objeto criado, a forma.”(p.29)
“... é necessário ir além, inserindo forma e função na estrutura social, sem o que não comparemos a natureza histórica do espaço. A estrutura diz respeito à natureza social e econômica de uma sociedade em um dado momento de tempo: é a matriz social onde as formas e funções são criadas e justificadas.”(p.29)
“forma , função, estrutura e processo são quatro termos disjuntivos associados , a empregar segundo um contexto do mundo de todo dia. Tomamos individualmente, representam apenas realidades parciais, limitadas, do mundo. Considerados em conjunto, porém, e relacionados entre si, eles constroem uma base teórica e metodológica a partir da qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade”(SANTOS, 1985, p.52)

Espaço e geografia humanista e cultural

“A década de 1970 viu também o surgimento da geografia humanista que foi, na década seguinte, acompanhado da retomada da geografia cultural. Semelhantemente à geografia crítica, a geografia humanista, calcada nas filosofias do significado, especialmente a fenomenologia e o existencialismo, é uma crítica à geografia de cunho lógico-positivista. ...é a retomada da matriz historicista que caracterizava as correntes possibilista e cultural da geografia tradicional.”(p.30)
“A paisagem torna-se um conceito revalorizado, assim como a região, enquanto o conceito de território tem na geografia humanista uma das suas matrizes. O lugar passa a ser o conceito-chave mais relevante, enquanto o espaço adquire, para muitos autores, o significado de espaço vivido.”(p.30)
“Segundo TUAN (1979) no estudo do espaço no âmbito da geografia humanista consideram-se os sentimentos espaciais e as idéias de um grupo ou povo sobre o espaço a partir da experiência.”(p.30)
“O espaço vivido é uma experiência contínua, egocêntrica e social, um espaço de movimento em um espaço-tempo vivido... (que) ... se refere ao efetivo, ao mágico, ao imaginário”(HOLZER, 1992, p.440.”(p.32)
“O espaço vivido é fragmentado em função do pertencimento ao mesmo povoado, linhagem, tribo, grupo etnolinguístico, casta ou área cultural, que fornecem referenciais básicos para o cotidiano em sua dimensão espacial.”(p.32)
“A distância estrutural pode ampliar as relações quando confrontada com a distância objetiva. “(p.33)
“As relações comerciais entre consumidores e vendedores são por outro lado, influenciadas pelo fato de ambos pertencerem ou não a mesma tribo ou grupo étnico. A despeito de grandes distâncias, objetivamente definidas, as relações comerciais são mais intensas com centros mais distantes do que com aqueles núcleos mais próximos, porém dominados por outras tribos ou grupos étnicos.”(p.33)
AS PRÁTICAS ESPACIAIS

“... o Homem estabeleceu um conjunto de práticas das quais são criadas, mantidas, desfeitas e refeitas as formas e as interações espaciais.”(p.35)
“As práticas espaciais resultam, de um lado, da consciência que o Homem tem da diferenciação espacial.”(p.35)
“As práticas espaciais, são meios efetivos através dos quais objetiva-se a gestão do território, isto é, a administração e o controle da organização espacial em sua existência e reprodução.”(p.35)
“Se as práticas resultam da consciência da diferenciação espacial, de outro lado são ingredientes através dos quais a diferenciação espacial évalorizada, parcial ou totalmente desfeita e refeita ou permanece em sua essência por um período mais ou menos longo.”(p.35)

Seletividade espacial

“No processo de organização de seu espaço, o Homem age seletivamente. Decide sobre um determinado lugar segundo este apresente atributos julgados de interesse de acordo com os diversos projetos estabelecidos. A fertilidade do solo, um sítio defensivo, a proximidade da matéria-prima, o acesso ao mercado consumidor ou a presença de um porto, de uma força de trabalho não qualificada e sindicalmente pouco ativa, são alguns dos atributos que podem levar a localizações seletivas.”(p.36)

Fragmentação- remembramento espacial

“A fragmentação e o remembramento desta porção de espaço são uma prática corrente.”(p.37)
“Na dinâmica de uma dada empresa o seu espaço de atuação pode ser submetido à fragmentação deriva da intensificação da atuação da empresa, que leva à implantação de novas unidades vinculadas, quer à produção, quer à distribuição, unidades que possuem, cada uma, uma exclusiva área de atuação.”(p.38)
“O remenbremento espacial, deriva, de uma política da empresa visando impor outra racionalidade ao seu espaço de atuação... a diminuição da oferta da produção é uma das razões que leva ao remembreamento espacial. O aumento da acessibilidade, pode eliminar localizações que só faziam sentido no contexto deprecaria circulação.”(p.39)
           
Antecipação espacial

“Antecipação espacial significa reserva de território, significa garantir para o futuro próximo o controle de uma dada organização espacial, garantindo assim as possibilidades, via ampliação do espaço de atuação, de reprodução de suas condições da produção.”(p.39)

Marginalização do espaço

“O valor atribuído a um dão lugar pode variar ao longo do tempo. Razões de ordem econômica, política ou cultural podem alterar a sua importância e, no limite, marginalizá-lo, deixando-o à margem da rede de lugares a que se vinculava... o abandono de uma dada região, pode, por outro lado, marginalizar determinadas cidades que tinham a sua razão de ser em função daquela atividade agrícola.”(p.41)
“A marginalização espacial tem impactos diversos , afetando o nível de empregos e de impostos via fechamento das unidades de corporação e daquelas atividades direta e indiretamentes ligadas a ela. Afeta também as interações espaciais dos lugares marginalizados, situados fora da rede de ligações internas à corporação. O fechamento da unidade pode, ser acompanhado de uma reconversão funcional no âmbito da própria corporação, na qual uma atividade substitui aquela que foi retirada do lugar, ou aí permanece uma parte de suas antigas funções: trata-se, no caso, da marginalização espacial.”(p.41)

Reprodução da região produtora
“No processo de valorização produtiva do espaço é necessária que se viabilize a reprodução das condições de produção. Isto implica em práticas espacialmente localizadas, via de regra efetivadas pelo Estado ou pelas grandes e complexas corporações.”(p.42)

RIBEIRO, Darcy. A Urbanização Caótica.

RIBEIRO, Darcy.  A urbanização caótica.  In. ---.  O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil.  São Paulo: Companhia das Letras, 1995, pp.  193 – 204.

Darcy Ribeiro relata a formação civilizatória  das cidades brasileiras pautadas nas instituições tradicionais que tiveram sua influência diretamente associadas ao desenvolvimento sócio-econômico do país.
Tais instituições tradicionais citadas pelo autor, tanto foram responsáveis pela formação estrutural como social das cidades brasileiras. A escola, a igreja e a política, perpetuaram durante a evolução histórica como agentes de transformação, que com o passar do tempo, digo atualmente, não exercem mais o seu poder de controle e de doutrinação. “A escola não ensina, a igreja não catequiza e os partidos não politizam.”(p.207)  
A causa da urbanização caótica vigente no país, é resultado da produção da sociedade no decorrer dos anos, esta se dá desde a chegada dos europeus do ocidente, na conquista de um país colonial,  miscigenada com os índios, que aqui viviam, com os negros africanos importados para a mão-de-obra dos tempos da escravatura, até a chegada dos imigrantes expulsos da Europa, marcando o período em que ocorre o processo de industrialização no Brasil.
A industrialização e a urbanização são processos complementares. Ambos tiveram início no governo de Getúlio Vargas. A política de capitalismo de Estado e de industrialização de base, provocou a maior reação por parte dos privatistas e dos porta-vozes dos interesses estrangeiros, levando o governo a uma desmoralização.  Tal fato viria a desencadear posteriormente, com Juscelino Kubitschek, a industrialização substitutiva, ou seja, o processo de fornecimento de subsídios que facilitaram a entrada de indústrias no país a fim de aumentar o dinamismo da economia nacional a partir do estado de São Paulo -  pólo de colonização interna, crescendo exorbitantemente e coactando o desenvolvimento industrial de outros estados.
A industrialização oferece emprego urbano ao homem do campo. Este processo levou as metrópoles do Brasil a absorverem imensas parcelas de população rural, que por sua vez se viu obrigada a sair do campo em função do processo evolutivo da tecnologia, do monopólio dos latifundiários e do direito implícito de se manter a terra improdutiva . A falta de infra-estrutura das cidades brasileiras, despreparadas para receber este grande  contingente populacional na década de 1940 a 1960, teve como conseqüência os inchaços dos grandes centros urbanos em todo o país, uma ocupação desordenada do espaço pelo homem.  Estes e mais outros tantos fatores estiveram então, desde o início, ligados intrinsecamente a outros aspectos do caos urbano, tais como o desemprego, a marginalização, o tráfico de drogas, a prostituição infantil e a perda da moral de uma sociedade.
A problemática que o Brasil enfrenta, não é de fácil resolução, como aponta Darcy Ribeiro.
“...É necessário um programa de reestruturação econômica que permita garantir emprego a essas massas dentro de prazos previsíveis, mais os tecnocratas dos últimos governos só vêem uma saída, a venda a qualquer preço das indústrias criadas no passado, seguida do mergulho da indústria brasileira no mercado global, com a confiança que eles nos dará a  prosperidade, se não para o povo trabalhador, ao menos para o que estão bem empregados no sistema econômico...”(p.204)

A formação do Brasil é fruto de nossos antepassados, um país rico com uma população sedenta de modernização e de progresso. Ainda que ancorada no passado, representamos a tarefa e a responsabilidade de nos tornamos uma nação progressista e justa para o desfrute de nossas gerações futuras, pois é assim que se faz a história de uma nação, produzindo hoje o que reproduziremos no amanhã.

THOMPSON, E. P. Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial


THOMPSON, E. P.  Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial. In.: ---.  Costumes em comumTrad. Rosaura Eichemberg.  Editora Schwarcz, São Paulo:1998.p. 267 – 304. 

O texto tem por objetivo investigar a significação do tempo para o homem da sociedade ocidental.  O foco é direcionado ao período da Revolução Industrial Inglesa durante o século XVIII, uma vez que este acontecimento histórico foi o palco de inúmeras mudanças políticas, sociais e econômicas que afetaram toda uma concepção de mundo preexistente nos mais diversos grupos sociais.  Inúmeras culturas em diferentes espaços foram submetidas a resultados freqüentes e cada vez mais assustadores de pesquisas pró-desenvolvimentistas feitas numa Europa sedenta pelo progresso técnico, pela geração incessante de lucros e até pela afirmação da mais-valia como uma marca na “eternidade” que contaria na hora do Juízo Final.  
O texto inicia com a análise da percepção do tempo e do uso deste pelo homem em comunidades “pré-industriais”.  Entre casos mais extremos de descaso com o tempo –  tal qual se observa em comunidades camponesas na Argélia – e a dependência da sociedade atual em relação aos ponteiros dos relógios, muitas situações foram enfrentadas por nossos ancestrais.  Em tempos mais antigos lançava-se mão de inferências de signos da natureza para a divisão do tempo de realização das tarefas durante o dia.  Cada comunidade pautava sua medição de tempo de acordo com a atividade que dava sustento ao grupo e que, para isso tinha que ser contemplada nos horários certos. Os pescadores trabalhavam de acordo com as marés, os agricultores durante o horário solar etc. Mais tarde observou-se em diversos grupos sociais um sistema de “orientação pelas tarefas”, cuja essência preza pela realização primeira das necessidades básicas, pois que é “mais humanamente compreensível do que o trabalho de horário marcado”.  Além disso, neste sistema há menos separação entre o trabalho e a vida, haja visto que estes dois elementos se misturam no cotidiano.
Eis que surge um desvio no processo de uso do tempo em direção ao uso “útil” deste tempo.  Com o aparecimento inevitável da figura do empregador, mesmo dentro das famílias de artesãos, “o que predomina não é a tarefa, mas o valor do tempo quando reduzido a dinheiro”.  Aí tem-se a afirmação da ideologia mercantilista, que mais tarde constituiria bases para a Revolução Industrial e o surgimento dos capitalismos industrial e financeiro. A este fenômeno agrega-se a expansão comercial dos relógios pelo mundo.
Com as fábricas produzindo agora em grande escala, não há mais tempo a ser “desperdiçado”.  A irregularidade característica do “sistema de trabalho em domicílio (putting-out system)” passa a ser considerada até mesmo diabólica pela sociedade industrial em formação.  O tempo havia de ser sincronizado às tarefas diárias a fim de gerarem mais produtividade dos funcionários, pois o Juízo Final levará em conta a ociosidade de todos os “pecadores”.  Até o rigor aplicado aos estudantes nas escolas era, na realidade, um tipo de criação de um costume para com a disciplina em suas atividades.  A máquina era agora o paradigma de produção incessante de insumos e forçava uma “administração eficiente do tempo da força de trabalho” daquele que a comandava, para assim otimizar seus resultados e produzir mais e mais dinheiro.  É o início do capitalismo industrial disciplinado. 

“...pela divisão de trabalho, supervisão do trabalho, multas, sinos e relógios, incentivos em dinheiro, pregações e ensino, supressão das feiras e dos esportes – formaram-se novos hábitos de trabalho, impôs-se uma nova disciplina de tempo”. (p.297)

Porém, essas ideologias tiveram dificuldade para se internalizarem nas sociedades e nos homens coagidos pelas forças mercadológicas, uma vez que representam a aculturação, ou seja, um ataque aos costumes dos povos.  Não só os territórios colonizados pelas potências européias tiveram resistência em aceitar a sincronização do tempo às tarefas financeiramente rentáveis, mas também os distritos manufatureiros europeus também não se entregavam facilmente aos ritmos de trabalho exigidos pelos empregadores.  A expansão do Puritanismo e das religiões metodistas (“o próprio nome de ‘metodistas’ enfatiza essa administração do tempo”) e evangélicas foi um fator que contribui em muito para a conversão das pessoas a novas avaliações do tempo nos moldes da ideologia capitalista:

“o ‘homem integral’ também amará a sua família, cultuará o seu Deus e saberá expressar os seus dons estéticos. Mas ele manterá cada uma dessas outras orientações ‘no seu devido lugar’”.

O processo de industrialização desenfreada na sociedade ocidental a partir da Revolução Industrial (levando em conta todos os antecedentes produtivos dos séculos XVI e XVII) gerou no cenário moderno o problema do “lazer das massas”.  O trabalhador também consome em seus horários de lazer, por isso este tempo não pode ser tão reduzido quanto na época da indústria nascente.  Em decorrência disso e de movimentos anarquistas do início do século XX, defendeu-se durante muito tempo, senão até hoje, a idéia de um dia dividido em três partes: 8 horas para o trabalho, 8 para o lazer e 8 para o descanso. Logo, o que se observa atualmente a partir da diminuição do tempo das jornadas de trabalho pode ser analisado sob duas óticas: uma puritana, que pensa sobre as novas formas de aproveitamento do tempo enquanto mercadoria (pela Indústria Cultural, por exemplo); e outra “menos compulsiva”, que fará o homem repensar a utilidade do tempo – este não estaria mais sendo “desperdiçado” se favorecesse a interação social e se pudesse cada vez mais “derrubar as barreiras entre o trabalho e a vida”.

DOVEMPORT, L. & RAO, M. A história da Proteção: Paradoxos do Passado e Desafios do Futuro.

A História da Proteção: Paradoxos do Passado e Desafios do Futuro


 Bibliografia

DOVEMPORT, L. & RAO, M. A história da Proteção: Paradoxos do Passado e Desafios do Futuro. In: TERBORGH, J. Et al.(orgs). Tornando os Parques Eficientes: Estratégia para Conservação da Natureza nos Trópicos. Curitiba: UFPR, 2002. (p. 52-71)

CORRÊA, Roberto Lobato. A rede urbana.

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A Rede Urbana


Bibliografia
 CORRÊA, Roberto Lobato. A rede urbana. São Paulo, ed. Ática SA, 4º edição, 2002; Pg.5 - 87 

CORRÊA, R.L. O Espaço Urbano

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O Espaço Urbano


Bibliografia:
 CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo, ed. Ática, 4º edição, 2002.